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Rishikesh, a cidade dos iogues.

  • Foto do escritor: Admin
    Admin
  • 1 de dez. de 2010
  • 21 min de leitura

Esse cãozinho nos recepcionou na parada de taxi e cisou conosco até as motos virem nos buscar.

Rishikesh, capital do Yoga, é uma cidade no estado de Uttarakand cuja capital é Deradhun. Outra cidade muito famosa na região é Haridwar, onde desembarcamos de trem. Muitas pessoas vão a Rishikesh por causa de sua sacralidade por ter sido morada de muitos santos e sábios, ou paradas daqueles que se deslocaram em peregrinação para os locais sagrados aos pés do Himalaia: Gangotri, Badrinath e. Kedarnath. O próprio Adi Shankara subiu os himalaias partindo de Rishikesh, por isso essas cidades geladas estão repletas de templos que muitos desejam conhecer pelo menos uma vez na vida, assim como Varanasi.

Como eu disse, chegamos em Haridwar e de lá pegamos um taxi jipe até o terminal de taxis de Rishikesh. Nós achavamos que o motorista nos levaria até o hotel, mas ele disse que seu carro não atravessava as pontes ( que são apenas para pedestres, vacas e até algumas motos). Nós ainda não conheciamos o modus operandi de alguns indianos e ficamos sem saber o que fazer. Ele disse que nosso hotel era do outro lado da Ramjhula e foi tomar seu chai. A Roberta viu um telefone, STD e foi ligar para o hotel. Eles disseram que iam nos pegar. Adoramos e ficamos esperando. Eu olhava paro o Ganjes bem caudaloso, forte e para aquela ponte que parecia frágil e ficava a pensar em ter que atravessar ela todos os dias, será? Eu tenho um certo medo de altura, em lugares desse tipo, mas se o pessoal do hotel vinha nos pegar e se não passava carro por ali, tudo maravilhoso, não teria que passar sobre a ponte, pelo menos não hoje, depois de uma longa e cansativa viagem de trem.

Um rapaz de moto chegou se apresentou e disse para uma de nós subirmos na garupa. Eu não acreditei, minha cara deve ter sido das piores pois a Roberta perguntou se eu estava com medo e ainda acrescentou que era o jeito. Eu já tinha visto como os indianos dirigem moto, mas lá encima daquela ponte no meio do Ganges. A Ramjhula tinha uma proteção lateral não muito alta, e dava a impressão que ela sacudia com o leve vento que soprava. Não teve jeito, ele pegou minha mochila e lá fomos nós.

Depois da aventura de atravessar Ramjhula na garupa de uma moto com a mochila nas costas (uma de cada vez), chegamos ao hotel e fomos bem recebidas pelos simpáticos garotos. Estávamos com fome e fomos ao restaurante onde comemos um cheese toast e tomamos chá. Numa mesa ao fundo havia um homem lendo jornal que nos cumprimentou e seguiu lendo seu periódico. Ele usava turbante e tomava alguma coisa. Satisfeitas e refeitas, fomos para o quarto e deslizemos as mochilas, colocamos algumas roupas para arejar na varanda e fomos tomar um merecido banho. Fizemos um reconhecimento no hotel e como ainda era bem cedo e fomos dar um role, queríamos ver o Ganges.

O Raajdeep Hotel ficava perto mas não dava para ver o rio e nem o ouvir. Iriamos sentir Ma ganga, então descemos a rua e notamos algumas bolas marrons secando no muro de uma casa, mais tarde viemos a saber que era esterco secando e que ele alimentava o fogo das cozinhas indianas. Passamos por pequenos comércios e finalmente chegamos em Ramjhula, passeamos pela ruela coberta, olhamos as vitrines das lojas, identificamos restaurantes, agencias de viagens e livrarias, e vimos nosso primeiro Ghat, que são escadarias na margem do rio, nos sentamos ali e ficamos observando calmamente a paisagem.

Voltamos até Ramjhula e pegamos uma via que levava até Laxmanjhula. A Roberta sabia de algumas coisas sobre a cidade, não só porque lera no nosso guia que compramos na Fnac antes de viajar, mas também porque um amigo havia estão lá e deu boas dicas, de onde comer, o que ver e inclusive a dica do hotel onde estávamos.

Na rota que leva a Laxman Jhula, de longe avistamos o templo de Kryia Yoga feito de acordo com o sonho de sri Yukteswar Giri, o Mestre de Paramahansa Yoganada, da nossa linhagem de Kryia Yoga. Recordo que ficamos felizes em avistar o templo, mas ele parecia bem distante, do outro lado do rio. Tiramos algumas fotos e seguimos em direção a Laxmanjhula, onde tem mais comércios mais agitação e fomos fotografando tudo o que víamos. Tudo era novidade, as vacas, os macacos, as meninas fazendo tatuagens de hena com block print, sadhus caminhando na estrada, templos e até a casa de Sivananda, que foi uma surpresa pois não sabiámos

Nosso quarto é o de cima na extrema esquerda.
Fachada do Raajdeep.

que ele tinha morado ali. Era uma casinha bem simples, com um jardim na frente e dentro poucos cômodos.

Nos familiarizamos com a vila, descobrimos lojas interessantes e voltamos para Ramjhula quando o sol já se punha e nos sentamos num ghat para admirar e fotografar. Compramos pratinhos de folhas com flores e incenso e colocamos no rio tal como as garotinhas que os vendiam nos ensinaram. Estávamos no swargarashram, uma parte de Rishikesh pouco explorada, quase não haviam turistas por ali, mas era justamente o local onde ficava o ashram Maharishi Mahesh Yogi, o guru dos Beatles. Queríamos ir lá, mas parecia ser longe, e declinamos. Comemos por ali, provavelmente num restaurante indicado pelo amigo da Roberta e combinamos de ir até o templo do Kryia yoga no dia seguinte.

Todas as manhãs acordávamos com três longos e potentes OMMMMM, era a aula de yoga no hotel. O professor era o homem de turbante que tínhamos visto no primeiro dia no restaurante. Vários turistas estrangeiros chegavam para essa aula. Nossa ideia era acordar, tomar banho e ir tomar café, mas nessa primeira manhã luz acabou, ouvimos um estrondo e apagou tudo, logo o banho seria problemático, pois na índia há um tipo de tanque que armazena agua para os chuveiros que funciona assim: liga-se um botão e espera esquentar, e quando a água estiver quente, haverá aquele volume único de agua para tomar o banho. Se seu banho for longo a agua vai acabar. Se não tiver luz não vai esquentar. No verão dá para encarar, mas era novembro e estávamos em Uttarakand, aos pés dos Himalaias, e estava frio.





A Roberta foi saber o que estava acontecendo e disseram que a energia caia todos os dias pela manhã. Sabendo disso, programamos acordar cedo e tomar banho rapidamente para garantir. Depois ficamos sabendo que isso ocorre em toda India, todos os dias, em alguns lugares mais de uma vez e também descobrimos o motivo: basta olhar as ruas, os tetos dos restaurantes, dos hotéis. as paragens das estradas, são lustres e mais lustres, luzes e mais luzes, eles adoram! Na fachada do nosso Hotel tinha uma cascata de luzes, dessas de natal.

No dia seguinte, no café da manhã, vimos uma ratazana entrar na cozinha saindo do salão onde estávamos. Nos já cominamos nosso cheese toast, e ficamos boquiabertas e nos entreolhamos. O rapaz que servia as mesas, veio nos trazer chá e falamos do rato e ele não ligou, disse que não tinha problema.

Nem comemos o resto e voltamos para o quarto para terminar de nos arrumar, escovar os dentes e saímos para a rua, vimos que havia ao lado do hotel uma vendinha, e fomos espiar. Havia um rapaz gorducho muito simpático e engraçado, ele disse que podia servir café da manha, na frente do balcão onde fazia os lanches tinha uma sala com uma mesa baixa, almofadas e ele colocava um som ambiente bom. Disse que podia preparar queijo quente com pão yogue, também nos apresentou bolo yogue, disse que ia buscar num ashram e que era feito por yogues. Não sabíamos se era verdade, mas era bom. Ele também fazia chá e tinha um bom papo, era super divertido e curiosíssimo. Nos servia e depois ficava batendo papo e tentando nos vender fitas cassete e musicas que ele gravava. Decidimos que iriamos tomar café ou lanchar lá, pois se tivesse ratos veríamos logo!

Depois disso atravessamos a Ramjhula pegamos um ônibus tuktuk e fomos ao Kryia Yoga Ashram de Rishikesh, fomos bem atendidas e lá encontramos um brasileiro que viaja há seis meses pela Índia, os atendentes eram estrangeiros e ficamos sabendo que ali os kryabans podiam se hospedar por uma taxa mínima, permitiram que conhecêssemos o lugar e no primeiro corredor vimos os quartos, singelos, que rodeavam a nave central que era o templo em si, a sala de meditação quando não havia algum evento. Permitiram que entrássemos no templo e vimos alguns vultos em alguns arcos. Eram pessoas meditando, alguns enroladas em mantas. Só víamos as silhuetas, pois a sala estava escura.

A sala era redonda, feita de arcos idênticos, com um altar central com algumas imagens. Havia um quadro de Sri Yukteswar Giri e ao nosso lado, encostado em algo, ainda o chão, e também vimos outra imagem não deu para ver se era foto ou pintura de Shankaranada Giri, o responsável pelo local. Eu nem sei como nos enxergamos alguma coisa, pois a sala estava escura, nenhuma luz!

Sentamos para meditar, mas na realidade ficamos observando o local, era imenso e conforme nos adaptávamos a escuridão fomos percebendo estatuas bem grandes no altar, Babaji, que também estava lá fora na entrada, Lahiri Mahashaya, Yukteswar, Yogananda, e Narayana Giri, que eu não identifiquei na hora porque não conhecia. Também haviam vasos grandes com flores, não sei se verdadeiras ou artificiais. O local ainda estava em construção, somente o primeiro andar e o subsolo estavam quase terminados, todo o resto estava em obras. Ficamos algum tempo ali, e nos sentimos privilegiadas, pois nos receberam, nos convidaram, e de inicio achávamos que nem nos deixariam entrar já que o Kryia ioga é uma pratica um pouco secreta que precisa de iniciação de um mestre e por ser bem rígida não acreditamos que estivéssemos ali dentro ao lado do quadro de Yuktesawar.

Ao sair do salão avistamos um swami que vinha pelo corredor circular, ele nos cumprimentou e sorridente perguntou quem éramos de onde vinhamos se éramos Kryabans e etc., e foi muito simpático dizendo que podíamos nos hospedar lá, mas no momento ainda haviam poucos quartos e quando o ashram estivesse pronto iria se muito maior! Ele foi bem amigável e nos deixou quando chegamos à portaria e paramos na livraria, lá ele conversou com um rapaz e saíram, e nós ficamos ali vendo livros e ganhamos uns livretos da editora de Sivananda, sobre o Gayatri e Meditação, compramos duas imagens sobre a respiração e meditação do Kryia yoga e fomos embora felizes.

Na porta da frente encontramos nossos sapatos intactos, fomos abençoadas por Babaji que estava ali sentado bem na frente olhando e zelando pelo local, aproveitamos para ia ao banheiro. Ainda era cedo, 13 horas e 15 minutos, e a fome bateu, pegamos um tuk tuk comunitário, que cobrou mais para nós porque éramos turistas, e fomos até a travessia da Ramjhula, no mesmo estacionamento de taxi aonde chegamos na cidade. Dirigimo-nos ao Italian restaurant onde além da ótima comida indiana eles tem uma das melhores pizzas que comemos na India, além de macarrão italiano que cai muito bem depois de semanas só comendo comida indiana picante. No fundo desse restaurante tem uma joalheria muito boa, e muito em conta, e o dono que se tornou nosso amigo, trocava dólares por uma taxa excelente, então trocávamos apenas lá!

Depois fomos caminhar para fazer a digestão e voltamos para Laxmajhula por dentro, por uma via muito bacana, onde você encontra todo tipo de gente: de sadhus a povos tribais que nunca tinha visto antes, de vendedores de flores a meninas vendendo tatuagens de hena, turistas e vacas, macacos e famílias Por quase todo o percurso tem bancos de cimento e às vezes as pessoas param para descansar É um trajeto de 25 minutos bem agradáveis.


Chegamos a centro que fervilhava de gente, turistas, pedintes, comerciantes, e fomos atraídas até o Trayambakeshwar Temple, e tocamos os sinos como faziam os indianos. Tocar os sinos nos templos Hindus foi mais uma coisa que aprendemos na Índia. Quando você faz isso é como se estivesse dizendo “Lord Hanuman, estou aqui, olhe para mim”. Alguns dizem que depois de tocar o sino pode fazer uma oração, outros dizem que além de chamar atenção do Deus, ao tocar o sino a energia é purificada, pois o som é uma partícula do sagrado OM, o som da criação do Universo. Mas há ainda que defenda que o som acolhe e dissipa o mal. Na duvida e na crença, tocamos muito, seguimos o que os indianos fazem. Tocamos sinos e tiramos fotos com os Deuses!


Lord Hanuman no Templo Trayambakeshwar

Até então nós não sabíamos que esse era um dos importantes santuários sagrados em Rishikesh. É um edifício enorme, rosado e amarelo com 13 andares, sendo os últimos em formato de torre. Tem diferentes divindades e dizem que é a morada de Shiva. O local está sempre lotado, tem muitas barracas de souvenires e comida em volta além de muitos pedintes, sadhus e crianças vendendo flores.

Demos um role pelas barraquinhas, tiramos muitas fotos, voltamos pela mesma via, encontramos as mesmas pessoas,, vacas e sadhus e fomos para o hotel. Tínhamos visto que no Sivananda Ashram, tinha aulas de yoga às 5 da tarde e fomos para lá. Atravessamos a RamJhula em Swargarashram e estávamos de volta a Tapovan, que é esse outro lado, mais badalado, onde ficam quase todos os ashrams importantes e hotéis mais caros da região.


Vista da sacada do Sivananda Ashram.
Ramjhula

Foi impressionante, depois desse tempo todo na Índia, encontrar um lugar onde o chão era limpo, tinindo, dava pra comer nele. Não se podia entrar com os sapatos nem no primeiro portão, ali já tinha que tira-los. Haviam placas pedindo para não cuspir no chão, pois esse é um habito horrível e nojento não só dos homens, mas das mulheres também. O local era impressionantemente limpo e fomos numa espécie de secretaria, onde um swami, ou algo parecido, nos indicou para onde ir. O ashram era enorme, tinha uma enfermaria onde atendiam de pessoas doentes carentes. Tinha uma ala de yoga só para mulheres, onde ingressamos. Nos disseram que a contribuição não era obrigatória. O salão era amplo com portas e janelas que davam numa varanda.


Mãe e filhote no Sivananda.

Era cedo para a aula, a professora não havia chegado e poucas alunas estavam ali. Fomos até a varanda pare ver a bela vista de frente para o Ganges. Havia uma macaca com o filhote, empoleirada no guarda corpo e eu tentei fotografar, mas ela não gostou e fez menção de me atacar. Corri para dentro e fomos para uma sala onde se deixamos a bolsa e pegamos um mat. O salão estava lotado e a maioria eram indianas mesmo, mas tinham algumas estrangeiras. A professora era bem pequena, chinesa e muito brava. A menina que estava ao meu lado, uma adolescente, devia ter uns 13 anos, se esforçava acima da medida e dava para notar que estava sofrendo. Me lembro da professora falando o tempo todo “inhale, exale”, fazer tudo muito rapidamente e foi a partir dai que eu comecei a ter raiva da saudação ao sol, pois a professora nos fez faze-la umas 20 vezes, não sei se foi isso mesmo, mas essa é a impressão que tenho até hoje, fiquei exausta. Demos nossa contribuição, mas nem todos deram, e fomos embora, passeando pelas lojas e barraquinhas da rua, rumo a ponte para atravessar mais uma vez e voltar para o swagarashram, nosso “bairro”.

No caminho para o Rajdeep, paramos num tipo de papelaria e compramos alguns adesivos de divindades, queijo fundido, pão, chocolate alemão e fomos para o hotel.

Conseguimos tomar banho e voltamos para a agradável rua coberta do Topwalla, Italian Resaturant, etc, e jantamos. O dono do Italian fazia câmbio de moeda para nós, era a melhor cotação na região. Estávamos longe de grandes hotéis e sabíamos que nos mesmos a cotação é ruim. Não havia casa de cambio ou banco e sim apenas agencia de turismo que não pagavam bem. O dono do Italian, acabou ficando nosso amigo e compramos algumas coisas na joalheria dele, que ficava no fundo do restaurante. Ele tinha peças boas, bem talhadas, comprei um crucifixo de granada e outro de peridoto.

Na manhã seguinte estávamos tomando nosso maravilhoso desjejum no Topwalla, curd com frutas e granola, chá ginger lemon honey tea e chesse toast, quando uma moça nos viu conversando e disse. “Meus Deus, os primeiros brasileiros que encontro nessa cidade!”

Era a Telma, professora de Ioga de Brasília que tinha ido fazer um curso de Deeksha no Chenai, se não me engano, e enfrentara uma viagem de 48 horas de trem, o que na ocasião consideramos impensável de enfrentar. Ela veio se sentar conosco e nos contou que estava hospedada no Parmath Niketan, um ashram no fim da rua.

Depois do café da manhã, já pensávamos em ir tomar um banho de limpeza de carmas no rio. Eu recordo que a Roberta sabia de um local mais adequado, pois uma amiga dela que tinha estado na Índia alguns meses antes nos deu essa dica, nos tínhamos biquínis, mas pensávamos em entrar na agua com alguma kurta ou algum pano enrolado no corpo. Falamos de nossa ideia e a Telma curtia e ainda sugeriu que fossemos numa caverna especial que tinha muita energia e no local onde diziam que Hanuman pegou a montanha para levar a o remédio para Laskmana que estava moribundo e precisava de uma erva que se encontra na montanha e como ele não conseguiu distinguir qual erva levar, levou a montanha toda! Eu adorei conhecer o local porque adoro Hanuman.


Montanha de Hanuman

A Telma precisava fazer algo em swargarashram e nós decidimos ir para o centro de Rishikesh, a cidade depois da ponte. Tínhamos algo em mente, queríamos comprar alguma coisa especifica lá, mas agora quando escrevo esse texto, não me recordo do que. A distancia entre onde pegamos o tuktuk ônibus, na Badrinath Road, altura da Ramjhula, até o centro de Rishikesh não era longa. Me lembro que atravessava a ponte Chandrabhaga e a partir dali descemos bem no centro. A rua era um caos, uma confusão generalizada e não sei como caímos em uma feira livre. As frutas eram lindas e compramos uma romã gigante a algumas maças para nosso piquenique no rio Ganges logo mais. Quando voltamos para swargarashram, fomos nos trocar no hotel, preparar um farnel e nos encontramos com a Telma e, as tres reunidas, lá fomos nós pela via beira rio que leva a Laksmanjhula. No caminho há uma quebrada, que a Telma conhecia e entramos por ela e logo estávamos na caverna misteriosa. Ela era estranha, pois não era na montanha, era mais uma construção sobre uma enorme pedra.


Era um local sagrado e quando olhamos as fotos que tiramos, tivemos certeza que tinha muita energia lá. Ao vivo era apenas uma caverna, nas fotos se vez muita luz multicolorida brotando do chão. Não é uma distorção ótica, nem da lente, pois outras fotos tiradas na mesma hora não tem essas luzes. Nos tiramos as fotos mas só fomos olhar depois. Dali caminhamos um pouco mais e alcançamos umas pedras que pareciam ter sido jogada ali por um gigante e lá no meio delas estava a placa e a bandeira indicando que fora dali que Hanumam extraíra a montanha.

Depois voltamos para a via e alguns passo depois ela abriu o portão de uma propriedade, passamos por um local onde haviam alguns sadhus e ela nos mostrou as vacas lambendo um bloco de gelo rosado, pensei eu, mas a Telma contou que não era gelo e sim sal do himalaia. Novidade para nós duas. Fomos em frente, e alcançamos a “praia” que parecia deserta. Olhamos longe para a direita e vimos uma moça e um rapaz, ele de shorts e ela de biquíni, um pouco atrás deles havia uma senhora tipicamente trajada indianamente sentada. Tiramos a roupa e ficamos de biquíni, a Telma não o fez. Fomos para perto dos dois turistas, que soubemos serem israelenses e entramos na agua juntas.


Chocante, fria, congelante, arrepiante, assustadoramente gelada, como se estivéssemos dentro de um copo de agua gelada com gelo e dentro de um freezer! Fora não estava muito frio, mas mesmo assim foi difícil entrar. Quando mergulhamos até os ombros o corpo relaxou, amorteceu, cedeu e houve um conforto muito grande. A Telma entrou de roupa e ficamos tirando fotos, conversando, felizes, falando de carmas, calculando quantos estavam sendo queimados e algum tempo se passou quando notamos que rapazes e meninos começaram a chegar, eles tiravam a roupa ali perto de onde estava a senhora indiana e se atiravam na agua, em segundos um verdadeiro enxame de rapazes lotou aquela praia deserta, saímos da agua e eles começaram a nos fotografar, nem tivemos tempo de nos cobrir. Eles tinham câmeras e telefones, mas em 2007 o Iphone nem existia e somente os telefones celulares com câmeras eram bem simples e ruins, com pouquíssima memoria e pouca gente os possuía. Conjecturamos que alguém nos vira na água e fora dela, pois tínhamos ficado um pouco em esteiras tomando sol. Essa pessoa foi até a vila e disse aos amigos que disseram a outros e num segundo o local estava lotado. Nós nos cobrimos e rapidamente nos trocamos escondidas sob os lungis que levamos.



Ficamos bem incomodadas e o rapaz israelense reclamou com eles e um teve a audácia de chegar perto da gente e pedir desculpas por ter atrapalhado nossa diversão, disse que iam embora e que podíamos ficar a vontade! Não aceitamos as desculpas e resolvemos ir embora somente depois que eles tivessem ido, para não ficarem andando atrás da gente!.

Vestidas outra vez, tiramos fotos, comemos, pois tínhamos levado um farnel e quando tivemos certeza de que haviam dispersado fomos almoçar dosas no Madras Café, que era um lugar bem agradável, com um anfitrião muito simpático que nos disse que estava acostumado a receber brasileiros pois um professor de Yoga se São Paulo ia muito lá. Era o professor Marcos Rojo, que conhecíamos de nome, ele tinha sido mestre da minha professora de Yoga. O professor Marco também era bem conhecido na loja ao lado que era uma mistura de livraria, joelharia, papelaria e também vendia roupas. Comprei uma belíssima pulseira Nine Planets e a Roberta comprou um colar, uma caderninho e depois disso voltamos para nosso bairro. Como ainda era cedo, a Telma perguntou se não iriamos com ela a algumas lojas onde ela queria barganhar. Como a Roberta era boa nisso, fomos em direção ao centro comercial de Laxmanjhula, onde fizemos algumas compras e encontramos uma loja da Amma do Abraço, eu lembro que a Roberta comprou uma sa a linda e eu um casaco.



Voltamos pela bela via e cada uma foi para um lado e nos fomos para o Rajdeep e no caminho paramos para ver com mais detalhes o sonho de Narayana, uma fonte que nunca está com agua.

Mais tarde jantamos juntas no Italian e combinamos de nos encontrar no dia seguinte, pois a Telma iria partir. Não me lembro se ela ia voltar para o Brasil ou se ia para outra cidade. Depois de uma agradável noite voltamos ao hotel que ficava num lugar bem agradável e calmo o que permitia que dormíssemos bem.


Na manhã seguinte a Telma apareceu para tomar o desjejum conosco, pois havíamos lhe contado do barzinho do Shiva, e ele ficou mega feliz por ter mais um cliente. De lá fomos fazer algumas compras finais com a Telma que iria partir logo mais e quando ela voltou ao ashram para fazer as malas, fomos para o ghat que há em frente do Parmarth Niketan e ficamos fascinadas com aquele lorde Shiva gigante, lindo, monumental. Estava bem calmo, não tinha ninguém, nos sentamos nas escadas e ficamos admirando a força do rio. Alguns minutos se passaram algumas mulheres chegaram ruidosamente, como todos os indianos, entraram na agua naquele local que é mais caudaloso, mas rápido e percebemos que elas seguravam em correntes presas nos degraus dos ghats, eram oito mulheres e uma criança. Algumas delas estavam sem a blusinha do sari, e ficaram com os peitos nus. Tínhamos visto isso algum tempo atrás, no mesmo dia, no outro ghat quase em frente ao restaurante Tip Top: duas mulheres mais simples, mais pobre notadamente, só com as saias. Ninguém ficou olhando, ninguém ficou fotografando ou falando! Achamos curioso, ficar com os peitos de fora era normal, e ficar de biquíni era uma coisa que podia dar cadeia! Sim, cadeia, pois quando saímos da praia vimos uma placa com esses dizeres, mas estava tombada no chão, alguém a derrubou para fingir que não a viu.


Almoçamos e mais tarde fomos nos despedir da Telma no Parmarth Niketan . Era muito limpo, organizado, bonito, como uma porção de estatuas de divindades, muitas pessoas de lá para cá, visitamos o belo local, tiramos fotos, subimos no rooftop, tiramos fotos e fomos conhecer o apartamento dela que tinha banheiro, cozinha e quarto. O Parmarth Niketan tem mil quartos, e eles se orgulham de dizer isso. É um local imenso e tem Hospital, clinica de fisiatria, horta, templos, salas de musica, de yoga, de meditação. Tem refeitório, uma lojinha onde vendem comida na saída, centenas de macacos, salas super. suntuosas onde o príncipe Charles e o Dalai Lama, assim como chefes do governo já se hospedaram. Tem escola de monges, enfim, uma cidade e ocupa cada vez mais terras na região.

O Swami Chidananda Saraswati , líder, é criticado por alguns locais, pois ele se apoderou de ghats e a farmácia que tinha na entrada foi desapropriada. Dizem que ele tem ótimos programas para limpar o Ganges e melhorar a cidade, mas outros dizem que ele só quer poder. Nós nunca tínhamos ouvido falar dele, e nem sabíamos disso que relatei acima. Gostamos do ashram e achamos que seria uma experiência interessante ficar ali, e resolvemos que da próxima vez que fossemos para a Índia ficaríamos no Parmarth Niketan.

Eu não lembro como a Telma partiu, se foi de tuk tuk ou carro. Nos despedimos e fomos caminhar pela outra rua, menos a beira rio, que leva a Laxmanjhula, descobrimos uma loja muito louca, como um senhorzinho muito simpático que queria nos vender de tudo, comprei um lindo mala de rudrashka, daqueles que nem existem mais, era uma peça única, talvez antiga, pois cada rudrashka tem duas pecinha de alpaca a circundando, e compramos estatuas de Krishina e Ganesh a preços muito módicos.

Cada dia era uma aventura, cada vez que saiamos conhecíamos coisas novas, os indianos são muito simpáticos, abertos aos turistas, e é obvio que muitos querem se aproveitar mas eles são muito boa gente. Nos limitamos a comer sempre no Italian restaurante que era do mesmo dono do Green Hotel, no Madras e no Topwalla que tinha um pessoal muito simpático e uma comida indiana muito boa enquanto o Italian tinha pizza e macarrão além da comida indiana típica. Gostávamos também de ir na livraria ali naquele pedaço, podíamos ficar mexendo em tudo e foleando todos os livros. Outro local de visita diária era a agencia de viagens do homem mais cara amarrada que eu já vi na índia, ele estava sempre bravo e de mal humor. Mas a lan house dele era a melhor, a que funcionava e íamos lá todos os dias a noite para ver e-mails, fazer pesquisas sobre hotéis em outras cidade, pois não havia Booking, Tripadvisor, Trivago, nada disso existia. Você tinha que olhar no guia, Lonely Planet, procurar se tinham site pra tentar ver como era o hotel. Muitos nem tinham fotos, só um telefone na Home Page. Outros até tinham fotos e e-mail ou telefone. Então enviávamos e-mail, se não respondessem em um dia a Roberta telefonava e reservava um quarto, em 2007 era assim. A Índia ainda era a Índia, não estava globalizada, a maioria das mulheres usava sari, no máximo uma kurta com aquela calça bufante e quase todas usavam bindis. Em 2007 quase ninguém tinha telefone celular e se o tinham nem levavam em viagens pois o homing custaria mais caro que uma reserva de hotel. Comprar um chip num pais estrangeiro, especialmente na Índia, era impensável.

Esse local chamava-se Blue Hills e lá também era possível telefonar, comprar pacotes de turismo, passagens de trem e nesse caso você não tinha que ir até a estação de Rishikesh, ele também alugava carros com motorista para levar os turistas para onde quisessem e programava viagens para as cidades sagradas de Kedarnath, Badrinath, Gangotri e as montanhas Garhwall. Também vendia passeios por perto e o raffitings no Ganges.


Foi com ele que compramos nossas passagens para Dharamshala, mas foi muito custo conseguir entender como chegaríamos lá. Uma amiga da Roberta tinha feito essa viagem e quando dissemos a ele que queríamos chegar a Dharamshala saindo de Rishikesh ele disse que era impossível. Fez um roteiro muito estranho e um rapaz que estava comprando passagens também nos alertou que a rota dele nos mandava pra Jammu que era muito longe!

Na verdade Jammu era antes de Rishikesh, se ficássemos ali, teríamos que conseguir outro trem ou outro carro e isso iria complicar a nossa viagem, mas o homem não entendia ou talvez quisesse nos enviar para lá pois já estava nos mostrando que faria uma pacote fechado, o que significava que em Jammu já teríamos outra condução para Dharamshala.

Dharamshala fica a uns 500 quilômetros de Rishikesh e queríamos ir de trem pois sabíamos que as estradas eram ruins, o trajeto de carro duraria quase 10 horas e ficamos receosas. Trem era sempre melhor, tínhamos escutado muitos amigos dizerem isso.

Mas o senhorzinho da Blue Hills estava fazendo uma grande confusão pois Jammu ficava em Himachal Pradesh assim como Dharamshala, mas queríamos ira para Pathankot no Punjab porque os rapazes do hotel tinham nos dito que ia ser mais fácil, pois partindo de Rishikesh não tinha trem para Dharamshala, mas tinha para Pathankot que distava 85 km, mas na índia esse percurso era feito em duas horas. Para nós caiu bem, melhor do que ir pra Jammu de trem e ai mais 5 horas de carro até Dharamshala. Viajar de trem é mais confortável pois você pode dormir nos leitos e nem sente a viagem, 5 horas de carro é muito tenso, pois os motoristas na Índia são muito loucos!

Com custo conseguimos a passagem no último dia, estávamos presas até ele resolver o caso, mas ficar presa em Rishikesh nem é tão ruim assim, porém queríamos passar mais dias em Dharamshala, a cidade do Dalai Lama, conhecida com Little Lhasa.

Declinamos mais uma vez em ir no ashram dos Beatles e ficamos passeando no ghat onde viviam alguns sadhus, era um local bem curioso pois era a casa deles sobre um varandão que havia perto do Parmarth Niketan.

Nosso ultimo dia em Rishikesh foi corrido. Pela manhã fomos tomar café conforme marcamos com o Shiva e ele não estava lá, tínhamos encomendado pão iogue e bolo para levar na viagem e nada dele. Um dos irmão veio nos atender, o Santosh e o caçula, Krishna, mas eles disseram que não podiam nos entregar o pão e o bolo que era para servir os hospedes do Hotel. Ai a Roberta intimou o Krishna a chamar Shiva que apareceu enrolado numa toalha como cabelo cheio de hena, estava se cuidando bem na hora que tínhamos combinado.

Como já conhecíamos o estilo de ser dos indianos, rimos muito e ele preparou nosso café, com a hena no cabelo e a toalha de banho na cintura, os irmãos o ajudaram e levamos nossas encomendas. Nos despedimos e ele ficou muito triste por estarmos partindo. Conversávamos com ele todos os dias, pois íamos e voltávamos para o hotel varias vezes, outras vezes cruzávamos com ele na cidade, ou numa dos pontes quando ele viajava em sua moto e nós a pé desviando das vacas

Fomos para nossa querida rua coberta e musical, compramos agua, mais algumas coisas como chocolate e salgadinhos haldirans e fomos buscar os porta mats de ioga que encomendamos numa oficina de costura em Laxmanjhula, também nos despedimos dos donos de algumas lojas no Swargarashram e especialmente do pessoal do |Italian e do Topwalla.

Voltamos para o hotel, pagamos, nos despedimos dos rapazes que eram super solícitos e simpáticos e fomos para a estação de trem. Hoje ao escrever esse relato não consigo me lembrar se fomos de tuktuk ou de moto. Talvez tenhamos atravessado a ponte de riquixa bike que leva bagagens de produtos e dali pegamos um taxi para a estação em Rishikesh, mas realmente não lembro.


A estação estava vazia, nunca viramos nada igual, porcos comiam restos de comida nos trilhos. Os indianos jogam lixo no chão e restos de comida, sacos de salgadinhos e os porcos estavam se alimentando desse lixo. Sentamos num banco e ficamos esperando o trem, acreditando que iria vazio porque a hora chegava mas as pessoas não. Chegamos a desconfiar se estávamos no lugar certo, mas algumas pessoas começaram a chegar do outro lado dos trilhos e foram aglomerando, um trem veio e foi, então chegou o nosso, entramos em nossos leitos e tranquilas pois o trem foi mesmo vazio e dormimos até chegar em Pathankot, rumo Mcleod Ganj, a Little Lhasa, a cidade dos tibetanos onde vive o Dalai Lama.

 
 
 

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