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A Magia da India

  • Foto do escritor: Admin
    Admin
  • 5 de nov. de 2007
  • 17 min de leitura

Atualizado: 8 de abr. de 2021


Quando se fala em Índia, qual é a primeira imagem que vem a cabeça?

Taj Mahal, ao menos para mim. Depois os elefantes, os sáris coloridos, as vacas nas ruas...

Eu não tinha muita ideia do que era a Índia, mas minha irmã estava muito interessada em viajar para lá. Um amigo dela que se aventurara pela Ásia, retornou ao Brasil trazendo muitas histórias e fotos que levou num jantar na casa dela. A partir dessa noite tivemos certeza de que deveríamos ir.

A Índia era um mistério, uma lenda, um lugar distante e emblemático. Naquele ano de 2006, eu estava lendo Autobiografia de um Yogue, de Paramahansa Yogananda e as histórias fantásticas narravas por Yogananda fizeram com que eu tivesse o desejo de me tornar uma Kriyavan, da mesma forma com que as aventuras dele quando criança e adolescente me fizeram ter vontade de ir para a Índia. Quando minha irmã começou a ler o mesmo livro, sua vontade de ir para lá aumentou e decidimos ir.

Ao mesmo tempo, eu desejava muito ser iniciada no Kriya Yoga, por isso entrei em contato com a SRF e me tornei membro. Comecei a estudar e percebi que ia demorar muito para a iniciação e eu sentia que precisava disso antes de ir para a Índia.

Compramos as passagens e, eu não me recordo como, conheci o Kriya Yoga da linhagem Hariharananda que foi iniciado por Yogananda e dele recebeu permissão para iniciar as pessoas.

Hariharananda foi discípulo de Sri Yukteswar Giri de quem herdou a honra de administrar o Karan Ashram (que até hoje permanece sob a administração dessa linhagem).

O Kriya aqui no Brasil estava engatinhando, eu escrevi para eles comprei os livros estudei e me inscrevi para a Iniciação, mas não havia vaga para minha irmã. Ela ficou decepcionada, e eu disse que se tivesse que acontecer, Yogananda iria arrumar um lugar pra ela, e então alguns dias antes da data do início do encontro para a Iniciação a Clemir França, que é a pessoa responsável por termo essa linhagem do Kriya no Brasil, me enviou uma mensagem dizendo que tinha ocorrido uma desistência e que minha irmã poderia ir à Iniciação.

Neste final de semana prolongado e muito bacana, fomos iniciadas por Bramacharyas e Swamis indianos, fizemos muitos contatos e recebemos energias maravilhosas. Lá conhecemos senhoras, na faixa dos 70 anos, que tinham ido para a Índia e que desmistificaram toda aquela bobagem que falavam sobre o país, como por exemplo: que não se podia nem tomar banho ou escovar os dentes coma água da torneira e muitas outras histórias apavorantes.

Nossa iniciação foi em outubro daquele ano de 2007 e em novembro embarcamos para a Índia, sem saber direito para onde estávamos indo.

Tínhamos conseguido reservar um Hotel em Delhi, outro em Varanasi e até em Rishikesh, porque um amigo de minha irmã tinha estado lá.

Delhi era a chegada e o ponto de partida para todos os outros lugares que escolhemos ir.

Na capital da Índia, programamos visitar o Templo da Lotus (Bahai Temple), o Índia Gate, e de lá iriamos para o Taj Mahal, depois Varanasi, que foi escolhida porque Yogananda e Lahiri Mahashaya eram de lá e também porque esta cidade é considerada a mais mística e a mais antiga da Índia.

Em seguida iríamos para Rishikesh, escolhida por ser a capital do Yoga e lá poderíamos nos banhar no rio Ganges e "queimar nossos carmas”. Yogananda cita em seus livros que o Kriya Yoga queima carmas assim como um mergulho no Ganges.

Esse foi basicamente no nosso roteiro acrescentando Dharamsala, ou melhor, Mcleod Ganj, onde vive o Dalai Lama, e Jaipur, a Pink City, porque disseram que era a jóia do Rajastão, e que era um passeio imperdível.

Fizemos escala em Milão e sabendo que iríamos chegar à meia noite em Delhi, compramos sanduíches de ciabatta com queijo, tomate e rúcula, por precaução pois sabíamos que existem aeroportos que fecham bares e lanchonetes à noite, e na Índia poderia ser assim (e foi). Pedimos para embrulharem para viagem, pegamos duas garrafinhas de água e fomos para a sala de embarque. Ali vimos os primeiros indianos, e notamos que eram muito barulhentos.

Devido ao overbooking, ganhamos upgrade para a primeira classe de Milão para Delhi, e foi uma benção porque estávamos muito cansadas. Tomamos prosecco e comemos castanhas, depois uma bela refeição, sobremesa a escolher e então nos recolhemos. As poltronas se tornaram camas muito reservadas, e quando acordamos, havia água fresca e logo nos trouxeram um lanche.

​Tínhamos reservado um hotel por telefone porque chegaríamos de madrugada. Em 2007 poucos hotéis estavam na internet e quando estavam não tinha como reservar por e-mail, pois eles não respondiam e-mail. Não havia uma interface, como há hoje, de reservas online e então telefonamos e reservamos. Também pagamos um carro para nos pegar no aeroporto.

Ao desembarcar, o aeroporto no impressionou, era muito grande e estava em reformas, mesmo assim, muito maior que os nossos. Contudo logo recebemos um choque de realidade ao irmos pegar a bagagem que jogada num canto, sem esteiras, sem vigias, sem conferencia. Qualquer pessoa chegava ali e pegava o que queria. Pegamos nossas mochilas e rumamos para o desembarque. Ficamos chocadas com o turbilhão de pessoas esperando os que haviam desembarcado. Lamento até hoje não ter tirado uma foto. Centenas de pessoas, famílias inteiras, esperando seu ente querido e outra centena de placas com nomes de passageiros e turistas. Eu e minha irmã nos olhamos e ficamos pensando se seriamos capazes de encontrar, no meio de tanta gente, o homem que fora nos buscar. Mas antes que pudéssemos dizer qualquer coisa alguns policiais bloquearam a passagem dos turistas e grosseira mente nos apontaram o lado esquerdo e indicaram que precisávamos preencher um papel de imigração.

Foi uma loucura, pois geralmente se preenche isso a bordo e depois se entrega. Nos demos conta de que ainda tínhamos que passar num outro lugar de imigração, e logo notamos que aquela imensidão de gente era apenas a ponta do iceberg, fora dos vidros e das correntes haveria mais e mais gente. Parecia que toda a população da cidade tinha ido ao aeroporto. Será que tinha algum evento? Será que algum famoso ia chegar? O time de críquete talvez?

Passamos pela imigração e começamos a procurar “nosso” motorista. E foi minha irmã que avistou um rapaz que acenava e balançava um cartaz onde lemos o nome de minha irmã.

Ufff foi um alivio. Corremos em direção a ele e disse que nos levaria ao Hotel. Deixamos a confusão do aeroporto e passamos por um túnel e tivemos a primeira impressão da Índia real: muitas pessoas dormindo ali, ainda dentro do aeroporto e nos corredores que nos levavam ao estacionamento externo.

Ao sair, uma grossa camada de areia nos atingiu, mas não há praia em Délhi, então não era areia e sim poeira. Dias depois descobrimos que essa poeira é fuligem, poluição.

As ruas nos arredores do aeroporto não impressionam muito, e o caminho até onde iriamos ficar era bacana, bonito, ruas largas com calçada altas, prédios e casarões, hotéis cinco estrelas e mais tarde descobrimos que era um dos bairros mais nobres, onde se encontram muitas embaixadas e consulados. Fomos passeando e admirando, achamos a cidade limpa. Não se parecia nada com o que havíamos visto ou com o que nos haviam dito sobre sujeira em toda parte. Mas era noite e a noite engana. Passamos por parques, Ministérios, pelo Taj Palace, muito verde, casarões lindos e andamos e andamos até que começamos a passar por ruas menos bonitas, mais bagunçadas e então começou a sujeira. Pilhas de lixo nas calcadas, algumas pessoas juntando os montes de lixo e cada vez a coisa ficava mais soturna e mais suja e nos entreolhamos assustadas e um pouco enojadas, e de repente o carro parou.

Não, não podia ser verdade. Perguntamos porque parara e ele disse, “O hotel de vocês é no fim da rua”. Nos entreolhamos, olhamos para "o fim da rua" e era um beco. Não podia ser verdade. O cheio era terrível, odor de xixi, muito xixi, urina de anos. Um mictório púbico na esquina da rua do nosso hotel. Uau, onde fomos parar! Que raio de hotel tinhamos escolhido? No site parecia bacana, falava que era num lugar central, mas até ai...

Marinheiras de primeira viagem sempre passam por esses perrengues. Pedimos para o motorista ir conosco até o hotel, mas ele disse que queria dinheiro, perguntou se não podíamos dar uma gorjeta. “Gorjeta? Nós te contratamos e pagamos caro por esse transporte”. Ficamos sabendo que o hotel pagava pouco para ele, e então desfiou uma ladainha e quando nos recusamos a pagar mais ele ficou contrariado e disse que não ria com a gente, porem dois rapazes do hotel chegaram rapidamente e pegaram nossas mochilas e nos acompanharam. Tivemos que confiar, foi tudo muito rápido, num beco escuro, em plena Main Bazaar.

O hotel era perto, cerca de 200 metros e no saguão, um menino dormia no sofá. Ele despertou para preencher nossa ficha.

O hotel era uma construção antiga, My Hotel, que atualmente se chama My Inn e está muito mais decaído. O quarto era no terceiro andar e não tinha elevador. Uma coisa que chamou a nossa atenção é que os quartos tinham janelas para o corredor. Parecia limpo, recém-pintado, e os lençóis também estavam limpos. Comemos nossas ciabattas com queijo, tomate seco e rúcula e caímos na cama.

Na manha seguinte acordamos com ruídos no hotel, gritaria na rua e buzinas. O ruído diferente dentro do hotel vinha de debaixo da escada e quando descemos para perguntar se havia café, percebemos uma mulher e um rapaz cozinhado ali, embaixo da escada, tinham uma bacia, fogareiro e outros utensílios.

Percebemos que nosso hotel apesar de super esquisito, foi escolhido por muitos outros turistas, entre europeus e japoneses, e isso nos tranquilizou um pouco.

O restaurante era no rooftop. Foi nosso primeiro rooftop de muitos. Subimos e até simpatizamos com o local. Decorado com bambu, tinham alguns esquilinhos andando no muro e uma chinesa atendia, talvez ela mesma cozinhasse. A comida era “meia boca”, e decidimos que tínhamos que conseguir outro lugar para comer e também precisávamos achar um hotel melhor para quando voltássemos a cidade no fim das férias para embarcar de volta para o Brasil.

Saímos para reconhecimento da cidade e para achar alguma empresa de turismo para nos levar ao Taj Mahal. Também queríamos saber onde era o Templo da Lótus e o Índia Gate. Caminhando pela ruela do nosso hotel chegamos na Main Bazaar, rua de comercio popular, que também vende por atacado e onde muitos europeus compram e enviam pelas empresas de delivery internacional que existem aos montes nessa região. Na Main Bazaar se compra de tudo, tudo mesmo, de lenços a colares, de saias a lustres, maçaneta de portas, bolsas, e há ainda uma porção de lojas de malas de viagens porque os turistas compram tanto que precisam sempre de uma mala nova. Tem alguns restaurantes bem sujinhos, que acabamos frequentando porque em todos eles víamos muitos turistas europeus e japoneses.

Nossa primeira aventura em Delhi foi ir em direção a estação de trem. Fizemos um reconhecimento do local e depois descemos a via Chelmsford Road e pretendíamos ir até Connaught Place, mas alguns indianos começaram a conversar conosco e um deles, que nos mostrou uma carteira de guia turístico oficial e aprovado pelo governo, disse que ia nos levar nos mercados mais bacanas, sem cobrar nada.

Como era nossa primeira vez na Índia e vimos o documento, que parecia autentico, acreditamos. Nós tínhamos lido muito sobre o assedio e a abordagem e ainda lemos sobre o fato de guias oficiais terem uma carteira igual a que ele nos mostrou. Ele disse que poderia nos vender pacotes turísticos legais numa agencia legal, mas declinamos e dissemos que estávamos indo num mercado perto da Connaught Place, o Dilli Haat.

Eu tinha lido num jornal de turismo que lá se comprava saias por sete reais e lenços por cinco. Nessa matéria também falava do Mercado Tibetano e o Janpath, que ficam próximos, e ainda do Chandni Chowk. Na verdade pretendíamos ir nesses três, mas no momento procurávamos um e o suposto guia disse que “por coincidência” era aniversario de sua mãe e ele estava indo no Palika Market e, “obviamente”, era um mercado melhor do que os que pretendíamos ir. Eu escrevi obviamente entre aspas porque todos os indianos que querem te enganar sempre tem algo obviamente melhor pra te oferecer. Como desconhecíamos os truques, fomos e achamos o Palika horrível, pois era um mercado para eles, com roupas e coisas para eles e não o que queríamos como turistas que éramos.

O rapaz era muito grudento, percebeu que não estávamos gostando de sua insistência e disse que iria comprar o presente para a mãe e nos encontraria depois porque queria nos levar na agencia de viagens dele. Tentamos despistar, mas percebemos que ele estava sempre por perto. Era muito chato. Dissemos a ele que queríamos ficar sozinhas e que não pretendíamos mais ir a qualquer loja ou agencia de turismo. Ele insistiu tanto que ameaçamos chamar a policia e então ele sumiu. Minutos depois apareceu outro rapaz, e fizemos a mesma ameaça e logo apareceu mais um, e foi difícil nos livrar do assedio.

Eles são uma gangue, um grupo, que se comunica por celular. Quando um te deixa em paz, aparece outro, mas não é do nada. Ele pertence ao grupo, e assim eles vão te abordando e insistindo para que vá à agencia deles, na loja do primo deles, no mercado do avô deles, e se você não agir com um pouco de pulso, está perdida. Não sabíamos disso tudo nesse primeiro passeio, mas depois de alguns dias percebemos esse tipo de jogada.

Entramos numa agencia de turismo que parecia oficial e honesta e fomos orçar um pacote para Agra, Taj Mahal e conhecemos o modus operandi machista dos indianos.

Apenas homens na agência e dissemos que queríamos saber sobre viagem a Agra. Não havia nenhum turista no local. Os vendedores eram muitos, mas estavam escrevendo, estavam ao telefone e nós ficamos esperando. Quando fizemos menção de ir embora, nos serviram um chai. Nosso primeiro chai, porque era a hora do chai: “chai time”.

Aceitamos o chai e continuamos ali porque na fachada da loja havia aquele cartaz Incredible Índia, que havíamos visto no consulado da Índia no Brasil, dizendo que as agencias que tinham esse cartaz eram oficiais do governo.

Mas nem tudo que se diz oficial é e nem tudo que é oficial é correto. E, quando um deles pode nos atender, perguntou onde queríamos ir e começou a fazer a cálculos e mais cálculos e perguntou se queríamos carro com ou sem ar condicionado, e qual tipo de carro. Enquanto fazia o pacote e os cálculos, entrou outro rapaz, com torradas e chai. Ele começou a comer e nem ofereceu. Ele comia enquanto nos atendia e seu orçamento foi tão absurdo que rimos. Nós já tínhamos visto pela rua anúncios de viagens para o Taj Mahal, de ônibus, trem e carro. Nessa loja autorizada pelo governo com o selo Incredible Índia, ele ofereceu carros diferenciados, com ar condicionado e disse que poderíamos ficar o tempo que quiséssemos, mas que tinha hora para voltar. E sem notar a grosseria de comer, tomar chai e nos atender, sem ao menos servir por educação, tentava ser simpático e finalmente disse o preço de quatro mil rupias, preço absurdo diante do que pagamos depois em outra agencia.

Parece que os indianos sabem que é a primeira vez que você está no país e percebendo isso, que você é marinheiro de primeira viagem, eles dão preços fora da realidade. Nós fomos de ônibus e pagamos 800 rupias com extensão a Mathura e Vrindavan.

Obviamente uma viagem de carro é mais confortável, porém, nada conhecíamos da Índia, o motorista não seria um guia, e preferimos uma excursão mesmo, com guia e hora livre para almoçar e etc.

Saímos da agencia famintas e paramos numa lanchonete bem bacana e perto da Connaught Place, lembro que tinha um templo de Hanuman perto e tentamos entrar, antes de irmos à lanchonete, mas um homem veio correndo e nos impediu, disse que estava fechado ou algo assim. Não entendemos porque ele não falava inglês.

Na lanchonete, tomamos nosso primeiro lassi e comemos a primeira dosa de nossas vidas.

Eu fui para a fila guardar um lugar para pagar e a Roberta foi pegar a comida. O sistema era assim: pegava a comida, pagava, sentava e comia. Enquanto eu esperava, um gringo residente começou a me perturbar. Gringos residentes são gringos, europeus, americanos ou australianos, que moram na Índia e sua especialidade é dar golpe em mulheres turistas. O cara de uns 45 anos ou mais, loiro, bem gringo, começou a conversar comigo na fila e perguntou quando eu tinha chegado para onde eu pretendia ir, de onde eu era, e falou “obrigada” em português. A Roberta chegou e olhou desconfiada e notamos que ele estava com um indiano. Minha irmã sacou na hora o estilo do cara e tentamos nos desvencilhar, vimos dois lugares numa mesa e corremos para lá. A mesa era de oito, e estava lotada, porém, sem que percebêssemos como, dois minutos depois, o gringo e seu amigo indiano já estavam ao nosso lado, puxando papo, insistindo em conversar.

Não respondemos, fingindo não entender a língua, comemos rápido e saímos. Lá fora, eles de novo, o loiro dirigindo um tuktuk e oferecendo carona. Minha irmã ameaçou chamar a polícia e eles disseram que “não era para tanto” e sumiram. Tentamos ir ao templo de Hanuman, mas não conseguimos, o mesmo homem nos impediu de entrar.

Na esquina, vimos uma grande movimentação numa loja que parecia uma padaria e lembramos que estávamos no Diwali. Nessa época eles se presenteiam principalmente com doces. Diversos tipos de doces, caixas lindas, ricas, de todos os tamanhos, para todos os bolsos. Demos um role e tentamos ir ao templo à Hanuman, mas novamente fomos impedidas. O “fiscal” não nos deixou entrar. Isso acontece muito na Índia, algumas pessoas se acham donas dos templos e não deixam turistas entrarem, a menos que pague para eles. Mas nesse dia ainda não sabíamos disso. Não sabíamos que tínhamos que pagar propina e fomos embora.

Depois dessas aventuras desagradáveis resolvemos voltar para o nosso hotel, decididas a comprar roupas indianas e nos vestir como eles. Nossas roupas ocidentais e pequenas mochilas que usávamos como bolsas chamavam a atenção. Compramos roupas, lenços e bolsas eassim o assedio acabou.

Aprendemos no primeiro dia que não se pode dar trela para ninguém, que temos que nos impor e que turista é turista em qualquer lugar, mas é turista bobo especialmente na Índia.

Depois de indianamente paramentadas fomos procurar agencias que vendiam passeios ao Taj Mahal e encontramos. Fomos comprar passagens para Varanasi e depois disso fomas na Lan House ao lado do hotel. Nessa lan house também telefonávamos para o Brasil.

A tarde fomos ao Baha'i Temple ou Templo de Lótus devido a sua forma de flor. O edifício foi concluído em 1986 e serve casa de santuário ou uma espécie de igreja (se é que posso usar esse termo) da Fé Bahá'í; uma religião monoteísta que enfatiza a união espiritual de toda a humanidade. Tem três princípios básicos estabelecem a base para os ensinamentos da doutrina: a unidade de Deus; a unidade da religião; e a unidade da humanidade. Ainda defendem que o propósito da vida deve ser conhecer e a amar a Deus. Tem um estilo arquitetonico que impressiona e foi idealizado pelo arquiteto iraniano Fariborz Sahba.

No dia seguinte acordamos bem cedo para ir a Agra. O rapaz da agencia onde compramos o pacote, que incluía Mathura e Vrindavan, disse que iriam nos pegar no hotel. Achamos fabulosos e ficamos a espera. Um pouco depois da hora marcada um rapaz entrou no sagão do hotel, que ainda estava de portas fechadas pois era muito cedo, e nos chamou pelos nomes. Felizes saímos pela porta com ele que começou a caminhar rapidamente pelas ruelas da região. Tentávamos perguntar a ele onde estava o carro para nos levar a estacão ou a parada de ônibus, mas ele não respondia e só dizia "vamos, vamos" e cada vez andava mais rápido. Nós quase correndo o seguíamos protestando até que ela parou em outro hotel, um casau saiu e continuamos a maratona, passamos em mais uns dois hotéis e chegamos numa avenida, feia suja, empoeirada e lá estava o ônibus e os outros turistas.

Realmente foram nos pegar no hotel, só que não mencionaram que era a pé. Depois que outros grupos de turistas chegaram com os respectivos guias que os foram pegar nos hotéis. O onibus saiu com atraso, como sempre, e depois de algumas horas parou para um chai. E essa aventura está em outro post Agra, Mathura e Vrindavan.

Estação lotada

A chegada a Delhi, de madrugada foi outra aventura pois havia um transito indescritível e quase apenas caminhões na rua. Supusemos que eles fossem proibidos de circular de dia, por causa da poluição. Demoramos muito tempo para chegar emPaharganj e o ônibus nos deixou na rua, perto da estação. Tivemos que ir para o hotel a pé e estava deserto e escuro, alguns mendigos dormiam ao relento ou outros reviravam o lixo da lojas que estavam fechadas.

Na manhã seguinte tomamos café no Sam's, depois compramos mantas e panos para forrar o leito do trem, água, castanhas, provisões para a viagem, alguns souvenires do Diwali como quadrinhos com imagens de Lakshmi, Ganesh e Saraswati, girlandas de pompons e ao meio dia fomos para a estação. Nos surpreendemos com a quantidade de plataformas da Estação Ferroviária Old Delhi. Nos dirigimos a um fiscal da estação e perguntamos onde pararia nosso trem, ele nos mostrou o painel e disse que ali apareceria, mas adiantou o numero provável. Fomos para a plataforma aguardar, porém a cada minuto os autofalantes abriam e diziam que o trem tal que deveria chegar na plataforma 1 iria chegar na plataforma 8. Como não há elevador ou escada rolante, a caminhada de uma plataforma para a outra é difícil, especialmente por causa do volume de gente. Torcíamos para nosso trem não mudar de plataforma, e cada vez que abriam os microfones e tocavam a musica da estação, nós tremíamos e tentávamos entender o que a moça dizia. Ela fava em hindi e em inglês com forte sotaque. Finalmente o pior aconteceu e fomos da 1 para 7 ou da 7 par a 1, não recordo agora. Outra coisa curiosa nas estações de trem indianas em 2007 era que o passageiro só ficava sabendo qual seria a sua plataforma poucos minutos antes do comboio de chegar na estação. Existem painéis informativos no saguão mas eles ficam mudando o tempo todo. Depois dessa mudança de plataforma, fomos informadas que o ideal sempre é esperar até quase a hora do trem chegar pois talvez não haja erro ou mudança de plataforma.

Plataforma 7

Mas na realidade, a pior coisa que tem numa viagem de trem, não é a plataforma cheia, nem a sujeira, ou a falta de lugar para sentar, nem mesmo essas mudanças repentinas de plataforma; o pior é estar longe de onde vai parar o vagão no qual o passageiro precisa entrar.

Nunca se sabe de que lado vai estar seu carro pois os trens nunca tem uma lógica. Nós imaginamos que primeira classe seria o primeiro vagão, então fomos para onde chegaria o primeiro, pois as estações tem placas sinalizando onde provavelmente para um vagão. Achamos que por ele vir da esquerda, lá seria o primeiro vagão, a primeira classe, depois segunda classe e o nosso estaria logo atrás.

A estação estava razoavelmente tranquila apesar de lotada, mas quando o trem apitou lá na curva uma horda de homens que parecia uma manada desembestada veio em nossa direção e começou a correr e não sabíamos o que fazer, tentamos ir para o outro lado, mas a furia não permitiu que dessemos um passo. Eles vinham atropelando, gritando, correndo e eu segurei nos batentes da porta de entrada do trem e tentei abrir a porta, mas estava trancada, minha irmã entrou em panico e eu a encurralei entre meus dois braços que seguraram os dois batentes ou corrimãos da porta e aquele vendaval passou porque os guardas começaram a vir para colocar ordem. Apitavam e tentavam ordenar uma fila batendo nos homens e meninos com varas de bambu. Logo a famosa fila indiana se formou, um colado no outro, não passava um mosquito entre eles e então conseguimos respirar, tentar entender o que tinha acontecido, averiguarmos as mochilas, pois a minha estava de costas para a bagunça e podiam ter levado algo, ou até mesmo a mesma e eu não teria podido notar.

Tentamos abrir a porta e continuava trancada, vimos que não era nosso vagão, mas pensamos em atravessar o trem por dentro. Fomos para outro vagão e batemos na porta e nada, batíamos de porta em porta desesperadamente, até que uma abriu e entramos. A maior confusão, gente mal educada arrumando as coisas e não deixando você passar, era a segunda AC.

Chegamos na nossa, terceira AC, porque compramos encima da hora e não conseguimos segunda ac. A terceira ac tem 3 leitos de cada lado, os leitos do corredor são melhores, pois são só dois. A salvo dentro do vagão, quando sentamos nos nosso banco minha irmã desabou começou a tremer e chorar. Foi realmente muito panico. Aquele vagão onde os homens entraram era a ultima classe, com bancos de madeira, sem conforto algum e entra quem puder, tem gente que viaja de pé. Vimos um desse passar, literalmente parece ema lata de sardinhas. A terceira AC é a única opção quando não se consegue a segunda AC. É horrível pois não há espaço para sentar caso queria ficar lendo ou se precisar descer para ir ao banheiro, por isso o leito do meio só é aberto na hora de dormir. Tínhamos comprado o debaixo e o acima deste que era um do meio. Acima tinha um europeu que ia para o Nepal, ele ia até Gorankpur. No outro lado eram 3 indianos, um casal nos leitos de baixo e meio e um rapaz super alto no superior. Lembro que quando ele foi dormir, seus pés ficaram para fora do leito. A segunda e a terceira classes comuns NON AC são impossíveis de viajar.

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