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Bodhgaya

  • Foto do escritor: Admin
    Admin
  • 18 de mar. de 2012
  • 10 min de leitura

Atualizado: 9 de abr. de 2021


17 h 53 min (1.087,3 km) via NH19 e NH19

Comecei a escrever esse Blog em 2012 e dispersei. Agora ao voltar percebi que muita coisa ficou sem ser dita e depois dessa viagem eu retornei para a Índia em 2014.

Parei de escrever quando ia falar Bodhgaya e percebo agora que é necessário falar sobre essa cidade porque é um local maravilhoso com uma energia intensa. Se você for Budista ou se tiver alguma afinidade com está religião, vai se sentir no lugar certo. Bodhgaya é uma vila perto de Gaya e fica no estado de Bihar. É mundialmente conhecida por ser o local da Iluminação do Buda Shakyamuni, sendo assim um dos locais budistas mais sagrados.

A maneira mais pratica de chegar lá é de avião, até Patna, a 110 km, e depois pegar um carro ou o trem até Gaya e de Gaya ir para Bodhgaya. Ou ir de avião até Gaya, que possui um aeroporto público, conhecido como aeroporto de Boddhgaya e que fica a 5km de distância de Boddhgaya.

Mas, como somos mochileiras e sempre quisemos conhecer a India Real, fomos por terra. preferimos ir de trem de Jaipur para Gaya porque esse é um meio prático e econômico de viajar na Índia já que as estradas são ruins e o transito é pesado. Muitos caminhões, tratores, rickshas, motos, elefantes, camelos, e carros, é claro. O percurso de trem pode levar um pouco mais de tempo, mas quando as viagens são longas como esta, que varia em torno de 17 horas e custa em torno de 1600 rupias (valor de 2014), vale a pena. Porém, não posso deixar de falar e repetir sempre de que só dá para viajar na primeira, segunda e terceira (excepcionalmente) no AC car. O vagão comum das classes terceira e segunda NON AC, esqueça.

Pegamos o trem em Jaipur e descemos na Gaya Junctions. Tiramos as mochilas do vagão e depois de toda a loucura que é uma estação de trem na India, chegamos ao setor dos taxis, onde centenas de motoristas de carros de aluguél, taxi e tuktuk aguardam os viajantes e, especialmente, os turistas. Como sabíamos que o trajeto não era fácil, preferimos pegar um taxi jipe e não o tuktuk, pois iria balançar demais e sabíamos que chegaríamos arrasadas na vila.

A cidade de Gaya é idêntica a todas as cidades indianas, suja, caótica e barulhenta. O que chamou a nossa atenção foram os incensos. Em todas as calçadas de algumas ruas víamos os incensos sendo colocados no chão para secarem, em outras calçadas víamos mulheres homens e crianças enrolando os mesmos. Dava a impressão de que boa parte da população da cidade sobrevivia dessa atividade.

O trajeto foi rápido e agradável. Chegamos ao vilarejo e logo percebemos a horda de turistas caminhando nas ruas. Muitos monges e muita gente do Sri Lanka, que tem uma roupa típica diferente da Indiana, você os diferencia facilmente pela roupa.

Saímos da avenida principal e entramos numa rua de terra bem estreita e andamos e andamos até chegar a nosso destino: Kundan Bazar GuestHouse

Tínhamos visto esse hotel na internet e logo simpatizamos com ele. O dono é uma pessoa extraordinariamente cordial e simpática. Ele tem um hotel bacana, com uma loja no salão.

Ao entrar você dá de cara com uma máquina de refrigerantes e uma loja repleta de artigos budistas, livros, cartões, cadernos, bandeiras e muita roupa. Kundan é uma pessoa ótima, ele mesmo nos recebeu, nos levou até o quarto e avisou para não deixarmos a porta da varanda aberta, por causa dos mosquitos. Alias lá é a cidade dos mosquitos assim como Rishikesh é a cidade das moscas.

Nosso quarto era muito bacana e tinha uma decoração de simplicidade monástica. Mas era muito agradável, com banheiro anexo. No rooftop da guesthouse existem alguns quartos com banheiros coletivos e todos estavam ocupados: por duas francesas, uma americana e um suíço. Sempre achei incrível o desprendimento dos europeus em relação ao banheiro coletivo. Eles não se importam mesmo. Eu cheguei a ficar em hotéis com banheiro coletivo quando fui para o Peru e para a Bolívia (nos anos 80), mas na Índia a situação é bem pior. Lá eu não teria essa coragem.

Kundan nos contou que era casado com uma suíça e vivia boa parte do ano na Europa, mas administrava o hotel porque tendo seu pai falecido, ele era responsável por sustentar a mãe e os irmãos menores.

Era um hotel familiar, com um café da manha simples chá com torradas manteiga e geleia. Ele vendia biscoitos e coisas praticas, como papel higiênico, que os hotéis para mochileiros ou os mais simples não fornecem. O wifi era apenas lá no saguão da loja, que tinha sofás, livros que você podia usar e mesas para colocar seu notebook.

Kundan estava sempre animado, de bom humor e rolava boa música no hotel, que tinha um astral ótimo. Ele era tão depreendido que deixava a cargo do hóspede, marcar num caderno o que havia sido consumido ou pegado na loja. Por exemplo: a pessoa pegava um refrigerante ou água mineral e ela mesma anotava no caderno, porque muitas vezes não tinha ninguém na recepção para anotar. Algumas vezes a mãe e os irmãos estavam lá, vendo quem saia e entrava mas não sabiam anotar. Minha irmã comprou algumas roupas e ele nem conferiu o preço, disse para ela fazer a conta do que devia e estava tudo certo. Confiava nas pessoas e eu acho que esse seu jeito é que faz sua guesthouse ser tão bacana, além dos serviços que ele prestava, como conseguir passagens de trem, um pouco mais caro, claro, por causa da comissão, reservar e chamar taxis para você e etc. Tudo era possível com ele.

Mas agora vamos visitar BoddhGaya, a cidade onde Buda se iluminou, a cidade que tem uma avenida com o nome da moça que o despertou para o caminho do meio, quando lhe ofertou um pote de arroz. A Avenida Sujata cruza a via principal, Domuhan Bodhgaya Road, e é nesse percusro até o Mahabodhi Temple que você vai se deparar com dezenas de templos budistas de várias linhas e origens. O mais bonito, sem dúvida alguma, é o tibetano porque a arquitetura e a arte tibetanas não se comparam a nada e são amplamente imitadas.

O Mahabbodhi Temple é o mais importante, sem dúvida e precisa ser visitado mais de uma vez. Nós íamos todos os dias e algumas vezes ficávamos sentadas meditando ou observando as pessoas contemplando aquela beleza toda.

Uma dica é levar lenços para se cobrir e se proteger das frutinhas que ficam caindo das árvores e também dos mosquitos. Leve um repelente se pretender ficar meditando ou fazendo prostrações.

Este complexo de prédios, stupas e belos jardins é muito grande e contém uma série de grandes atrações. Uma maneira de visitar é seguir os passos de Buda, que após atingir a iluminação ficou onde está o Mahabbodhi, meditando sobre a natureza do que ele havia descoberto.

A Boddhi Tree é outra grande atração e quando uma folha despenca de um galho várias pessoas, inclusive os monges, correm para apanhá-la e guardar como recordação. Nós temos as nossas folhinhas caídas da Boddhitree que na verdade é uma descendente da original que foi cortada quando o budismo foi proibido na Índia e anos depois recuperada pelo imperador Ashoka.

Dentro do templo temos a grande Stupa Animeshlocha que foi onde Shakiamuni se sentou na semana seguinte após sua iluminação e olhou para a árvore de Bobdhi. Na terceira semana, o Buda ficou entre a árvore e a stupa e essa zona é marcada pela Ratnachakrama que fica perto da parede norte do templo principal. Uma porção de lótus foram esculpidas nesse caminho onde dizem que ele caminhou e as pessoas costumam colocar flores no local.

Na quarta semana, Shakiamuni ficou em Ratnaghar Chaitya, situada ao nordeste do templo. E ele passou a quinta semana meditando e respondendo perguntas dos brâmanes sob a árvore Ajapala Nigrodh, um local que você localiza fácil porque possui um grande pilar e fica após a entrada leste. Buda passou a sexta semana ao lado do Lotus Pond, ao sul do complexo principal. E na sétima e última semana ficou sob a árvore Rajyatana, a sudeste do templo.

Tirupati

Fora do Templo existem várias atrações como o Bodhgaya Multimedia Museum, o Gandhen Phelgye Ling Monastery (Mosteiro Namgyal, Bodh Gaya), um mosteiro com laços estreitos com o Dalai Lama, o Templo japonês (Indosan Nipponji), com um belo jardim. O Taiwan Temple (World Chonghwa budista Sangha). Royal Bhutan Monastery, Thai Monastery, ndosan Nippon Japanese Temple, Burmese Vihara Monastary, Chinese Temple, Vietnamese Temple, Tibetan Monastery and temple além de muitos mosteiros como o Karma Dhargye Chokhorling, o Centro Phowa, o Mosteiro Tergar e muitos outros. E as atrações não param por ai porque ninguém deixa de visitar a Grande Estátua do Buda, de altura de 25 metros, com todos seus discípulos a sua volta doada pelo Templo budista Daijokyo em 1989.

A única coisa ruim em BobdhGaya é a falta de opção para comer. Foi muito difícil comer lá, porque você fica limitado a restaurantes muito populares, onde a higiene é bem questionável, ou aos mais dispendiosos, dos hotéis mais caros, Comer bem, conseguimos, mas era num local um pouco fora da muvuca central. Acabamos comendo diversas vezes no Tirupati South Café, que em 2012 servia uma comida indiana excelente.

Nesse pequeno Complexo, onde fica o Tirupati, há algumas outras opções, mas nós gostamos mais do Tirupati, e íamos lá todos os dias, pelo menos para uma das refeições. Comemos todos os tipos de pratos e todos eles eram muito bons. No centro, perto do Templo, há um pequeno centro comercial e uma feira. Compramos frutas e legumes lá, assim como pão, chocolate, chás, e todo tipo de coisa.

​​E um lugar que não podem deixar de ser visitado é a lojinha dos escultores que ficam na praça central.

Eles esculpem em pedra e em madeira. A sala onde guardam os Budas está abarrotada até o teto. Compramos mini Budas, como este que ele está esculpindo na foto ao lado, em casca de Boddhitree. É um trabalho lindo e delicado.

Ficamos uma semana na vila e não vimos tudo. De lá partimos direto para o melhor lugar que poderíamos ir depois desse mergulho no Budismo: Dharamshala, ou melhor Mcleod Ganj, ou apenas McLLo, lar do Dalai Lama.

Não foi fácil encontrar passagens para sair de Boddhigaya. Todos os dias íamos em agencias de viagens e eles nos diziam que só havia passagens para o próximo mês. Não podíamos ficar presas na cidade e tentamos de todas as formas.

Investigando, descobrimos que, como a estação de trem fica em Gaya, as agencias cobram ágio e se você não paga, não viaja. Poderíamos ir até Gaya comprar as passagens na estação, talvez pagando uma Tatkal, mas o custo da viagem de ida e volta até Gaya seria o mesmo que eles cobravam de ágio e ainda havia uma vantagem: pagando ágio, podíamos escolher os leitos.

Não tinha outro jeito, Kundan disse que funcionava assim quer você fosse local ou turista. Era o jeitinho indiano de ganhar mais.

Nosso lanche que não durou as 36 horas.

​​No último dia em Bodhigaya compramos uma sacola e algumas provisões pois a viagem de Gaya a Haridwar iria levar 36 horas. Fizemos sanduíches de pepino com tomate, de queijo cremoso com tomate, compramos sucos, mazza, chocolates, queijinhos la vache qui rit, salgadinhos de moong dal, doce soan papadi e castanhas.

Kundan chamou um taxi jipe para nós e como sempre atrasou, nos despedimos de nosso novo colega e fomos para Gaya. A viagem correu bem, porque apesar do atraso, o motorista ganhou tempo na corrida. Quando entramos no trem nossos leitos que eram os de baixo no vagão da segunda classe AC, estavam ocupados por um grupo de mulheres que literalmente estavam fazendo um piquenique.

Delicadamente dissemos que eram nossos lugares, que esperaríamos elas arrumarem as coisas para podemos nos alojar. Uma delas começou a reclamar. Quis ver nossas passagens. Mostrei, ela ficou indignada e começou a falar com as amigas e disse que tinham chegado antes. Nós alegamos que tínhamos as passagens e que tínhamos pago por elas. Elas não queriam sair, mas uma delas conversou com as outras e disse que era o nosso direito.

A "negociadora" com a Manu, de costas. A foto está ruim  pois foi tirada sem elas saberem.

Essa senhora que reclamou mais tentou negociar conosco, queria nos separar e nos colocar em leitos no alto. Ficou muito brava quando nos recusamos. Disse que éramos mais jovens e que elas iriam até Jammu. Argumentamos que iriamos viajar 36 horas e que queríamos ficar uma perto da outra e que tínhamos pagado mais caro por aqueles lugares. Ela começou a reclamar com as pessoas do vagão, dizendo que éramos mais jovens e que ela era mais velha e tinha o direito de ficar na cama de baixo.

Nós apelidados o grupo de Bruxas de Bihar, por causa de uma bruxinha que tínhamos comprado em Jodhpur que estava vestida com saris parecidos com os delas.

Não soubemos nunca o nome dela, mas no nosso box, tinham 4 camas. As debaixo eram minha e da minha irmã, acima da minha estava um rapaz que trabalhava em algum cargo na Indian Railways e acima da cama da minha irmã estava a Manu, amiga da senhora que não se conformou em não trocarmos de lugar com ela.

Elas eram em 5 e falavam alto o tempo todo. Quando tiramos os lencinhos umedecidos para limpar as camas, a mesinha e as paredes, vieram espiar, e depois comentaram com outras pessoas que vieram nos olhar. Quase todo vagão foi ver o que fazíamos.

Quando, depois de tudo limpo, organizamos nossas coisas na mesinha e começamos a comer, ela veio de novo tentar negociar. E em seguida, várias pessoas vieram nos espiar comendo. Fechamos as cortinas mas eles abriam e olhavam.

O grupo era divertido porque elas vestiram robes a noite e passeavam pelo vagão escovando os dentes. Tinham vindo de Calcutá e iam até Jammu. Viajariam muito mais do que nós.

A "negociadora" ficava o tempo todo chamando a Manu, entrava no nosso box, sem a menor cerimonia abrindo as cortinas e gritava pela Manu. Foi muito engraçado, até gravamos elas falando porque não paravam e falavam muito alto. Alguns viajantes reclamavam da bagunça delas e nós fazíamos "PSIU" vez ou outra.

A Manu era legal, conversamos muito com ela, enquanto a outra dormia e, no fim, descobrimos que eram mais novas do que eu. Minha idade foi um outro evento no trem, pois quando a Manu contou para a "negociadora" todas elas vieram ver olhar meu rosto de novo e algumas outras pessoas do trem também vieram nos ver.

Quando me lembro dessa viagem lembro sempre das Bruxas de Bihar, mas não num tom ruim, foi na verdade um apelido carinhoso, porque no fim todas elas acabaram gostando da gente e até se preocupando quando não almoçamos a comida do menu do trem. A Manu e o rapaz da ferrovia que estava no nosso box falaram tanto que nos vimos no dever de comprar a refeição na hora do jantar e era boa!!! Comida muito boa, aliás vale dizer que as melhores samosas que já comi na Índia foram as vendidas nos trens.

Também percebemos que não tínhamos calculado bem a comida que levamos. Fizemos alguns sanduíches que acabaram rapidamente. As castanhas, os chocolates e doces também. Foi uma viagem gostosa porque pudemos ter um sono tranquilo apesar da amiga da Manu tentar impedir isso.

DAQUI PARA DHARAMSALA, O LUGAR MÁGICO ONDE VIVE HH DALAI LAMA

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