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Pune

  • Foto do escritor: Admin
    Admin
  • 20 de out. de 2014
  • 21 min de leitura

Atualizado: 19 de mai. de 2021


Chegamos a Pune, depois de uma viagem de 230 km que deveria durar 10 horas e meia. O ônibus em que viajamos não era dos piores. Geralmente as agencias te vendem maravilhosos carros do primeiro mundo com ar condicionado e quando se chega na estação ou no ponto de partida, é sempre um cacareco, caindo aos pedaços e nem adianta reclamar. Se quiser desistir da viagem é por sua conta, sem devolução do dinheiro e caso queira abraçar esse prejuízo terá que voltar para o hotel que, geralmente, não tem mais quarto vago e começa a saga de sofrimento.

Como nós estamos escoladas em viagens de ônibus e não recomendamos, tentamos fazer esse percurso de trem porém Mr Ashoka, da agencia de viagens que ficava no Hotel Panchavati de Aurangabad e com quem viajamos para Ellora, Ajanta e etc., nos disse que não iriamos conseguir passagens de trem agora. Tínhamos que ter comprado com antecedência. A viagem de trem durava menos, cerca de 7 horas, enquanto que viajar de ônibus levaria 10 horas ou mais. Ele nos aconselhou ir com o famoso Red Bus de Aurangabad, e podíamos comprar o bilhete na hora e na estação, para esse trajeto havia carros saindo de hora em hora. Nós ficamos com o pé atrás e fomos averiguar na estação de trem, onde confirmaram tudo o que Mr Ashoka nos dissera e prometeram que sempre teria assentos para nós. Sempre tinha lugar vago porque era ao ponto de partida.

O Red Bus, apesar de antigo, foi uma viagem razoável e quando chegamos a Pune pegamos um tutuque com a garota que tínhamos conhecido durante o trajeto de ônibus, uma estudante que estava indo visitar a família. A deixamos onde ela indicou para o motorista e seguimos.

A primeira impressão que tivemos da cidade foi péssima. Muita sujeira, mais barulho do que o usual indiano, um transito horrível, não tínhamos nos dado conta de que estávamos em pleno Diwali e que era assim mesmo. Ficamos tanto tempo no transito que demoramos uns 10 minutos para atravessar um só quarteirão. As pessoas andando na rua, atravessando no meio dos os carros, os tuquetuques tresloucados, a poluição. Comecei a me sentir mal por causa do gás que saia dos escapamentos dos carros, enfim, um horror. Me perguntei o que estava fazendo ali, porque eu tinha voltado para a Índia? Quando ia conseguir chegar num lugar seguro?

Hotel Ashoka, foto da Internet

O Ashoka Hotel, reservado pelo Dr Vinod, no site até parece bacana, mas quando chegamos tivemos uma péssima impressão do saguão e quisemos ir embora imediatamente. O rapaz do balcão pediu que fossemos ver o quarto e subimos. Era uma escada muito velha, gasta, parecia um hotel pobre da época da colonização inglesa. Eu subi para ver o quarto e ao invés de ir para o lado esquerdo fui para o direito, os quartos eram estranhos, portas com abertura acima e abaixo, a ponto de qualquer animal de estimação entrar ou sair. No meio do corredor, fim da escada haviam tambores que deduzi serem de água, mas também pareciam filtros ou podiam ser aquecedores de chuveiro.

Desci e contei o que vi para a minha irmã e decidimos que não ficaríamos lá, mas o rapaz disse que eu tinha ido à ala errada. A outra ala, para onde nos convenceu ir, era como passar do inferno para o céu. Ficava a esquerda no final da escada.

A direita era aquele lugar horrível, com piso frio velho e gasto, aquelas porta de madeiras de três séculos de desgaste, mas bastava virar para a esquerda e o piso do corredor era novo, as portas novas, os quartos novos, bonitos, totalmente remodelados, com ar condicionado TV de plasma, camas bem arrumadas, enfim, outro mundo. Saímos do inferno para o céu. O rapaz nos convenceu a ficar e nos levou para a ala super delux Ac room.

Entramos, colocamos as mochilas num canto e na hora em que fui fechar a porta, uma barata saiu de trás dela. Então chamamos o rapaz que trouxe um aerossol. Vale dizer que na Índia é normal e eles não tem vergonha e nem se desculpam apenas eliminam o mal.

Então eu sentei na cama, eu e minha irmã nos entreolhamos, porque o rapaz estava economizando no aerossol. Minha irmã pediu para ele deixar lá porque iriamos passar em tudo e ele disse que não. Nesse momento, sentada na cama, olhei bem para o travesseiro e percebi que alguém havia deitado lá, a fronha estava suja (vide a foto ao lado).

Mostrei para minha irmã e levantamos, pegamos a bagagem e descemos. O rapaz da recepção não nos deixou sair e ficou dizendo que não podíamos ir embora porque havíamos reservado. Argumentamos com ele, falamos da barata, da sujeira na cama suja e ele se dispôs a trocar as roupas de camas.

Na Índia, muitos empregados dos hotéis comem e assistem TV em quartos vazios. Os indianos fazem coisas desse tipo no trem também e mesmo que você arrume seu leito com um lençol e etc, eles se sentam com a roupa suja e com as marmitas para comer ali, no seu assento, na sua cama, que na verdade não é sua, é de todos. Na Índia a gente aprende muito sobre isso, sobre não ter a posse só porque pagou pela cadeira ou pela cama do trem, é um bem comum. Assim é a Índia.

Nos não gostamos do hotel, achamos aquelas pessoas da escada mal encaradas, achamos que dava muito trabalho subir todos aqueles lances de escada e tínhamos um plano B. Sempre temos um plano B.

Apesar de tentarem nos impedir de ir, pegamos as mochilas e fomos em direção a porta. O recepcionista disse que ia telefonar para o Dr Vinod, que tinha feito a gentileza de reservar esse hotel para nós, pois era perto de sua clinica e escola.

recepção do Hotel Ashoka

Falamos para ele não ligar, minha irmã ficou brava e disse que não éramos obrigadas a ficar e que ele não tinha o direito de telefonar para o professor e nem de nos coagir. O rapaz insistiu e minha irmã disse que ia chamar a policia caso não deixassem a gente ir embora. Foi uma pressão violenta e eu fiquei com medo.

Estávamos cansadas e famintas, a viagem de ônibus sempre é cansativa e sem conforto, na Índia. Os rapazes que estavam na recepção disseram que não encontraríamos hotel tão perto assim da escola e ficaram nos dizendo que era tarde, como era Diwali os hotéis estavam lotados, mas demos meia volta e fomos embora. Ao lado do Hotel havia um restaurante que parecia bom e limpo, e estava vazio.

Era o Mango Tree, que mais tarde fomos saber que pertencia ao hotel ou tinha uma espécie de acordo com eles, pois os dejejuns ofertados pelo hotel eram servidos lá, como nos disse o garçom. Fomos super bem atendidas um dos garçons nos perguntou o que queríamos, mas nos convenceu a comer o que não queríamos e depois disse que àquela hora só tinha aquilo. Enfim, mais pressão. Quase fomos embora, mas estávamos com tanta fome que comemos um Thali de Pune que tem mais pratos que os Thalis que conhecíamos.

nosso pedido

Enquanto esperávamos o prato, minha irmã chamou a minha atenção, para olhar para fora, e vimos o professor Vinod passando na calçada em direção ao hotel. Ela comentou “os caras do hotel o chamaram mesmo!” e depois de alguns minutos ele voltou e entrou no Mango Tree, todos os empregados do restaurante o cumprimentaram e ele veio se apresentar e o convidamos para se sentar conosco,

A primeira impressão que tivemos dele foi super boa, ele era um fofo, com seu chapeuzinho de Baba indiano, muito amoroso e com uma fala suave. E então nosso Thali chegou e ele não quis comer e disse que tínhamos escolhido bem o prato, Quis saber por que não ficamos no hotel e contamos a verdade. Ele se desculpou muitas vezes, disse que costumava colocar seus alunos ali porque tinham bons preços e ficava a 3 minutos da sua escola. Comentou que seu funcionário tinha ido pessoalmente averiguar nosso quarto. Dissemos que o maior problema tinha sido a barata, e ele falou que poderia dedetizar, ou melhor, colocar um spray aerossol contra baratas. Na Índia, tudo é simples assim. Não comentamos que achamos o lugar sinistro e as pessoas mal encaradas. Na realidade, ficamos com medo de deixar o hotel pelas manhãs para ir a escola, ao ashram do dr Vinod, e na volta ter objetos subtraídos do quarto, afinal, naquele corredor sinistro circulava muita gente estranha.

Ele ficou conosco um tempo mas não tentou nos convencer. Ele compreendeu tudo especialmente quando dissemos que eu tinha rinite alérgica e viver passando aerosol no quarto só me faria mal. Partiu um pouco decepcionado, mas esperando nos ver na manhã seguinte para a primeira aula de Meditação em Savasana Yoga.

frente do Basera Hotel Lodge

O plano B ficava a 25 minutos de caminhada, mas pegamos um tutuque que levou uma eternidade, se tivessemos ido a pé teríamos chegado mais rápido, mas com as mochilas e o cansaço ficaria difícil.

Era Diwali, sabíamos disso e a rua onde estava localizado o nosso hotel era uma das mais importantes da cidade, com comercio de todos os tipos, mas bem setorizado. Perto do nosso hotel, vendiam flores e havia muita lojas de impressão, impressão de cartões de todos os tipos, inclusive de festas, de casamentos, muito bonitos, queríamos comprar mas vendiam o mínimo de 100. Não dava pra carregar.

Um pouco depois eram as joias, lojas e mais lojas de joias, depois roupas, e no fim da rua, após muitos quilômetros eram moveis. Passando os móveis a rua começava a ficar mais bonita, chagava-se a um bairro mais residencial e era ali onde havia o único restaurante bom e descente da região. Praticamente comemos todos os dias no Ganraj. Descendo mais um pouco virando à direita, chegávamos à outra rua que dava acesso a uma terreno, que no mapa chamavam de parque, mas que estava abandonado, cheio de mato e lixo e então chegávamos no Shanti Mandir do Dr Vinod.

O hotel Basera, parecia muito bom em comparação com o Ashoka, era um hotel de fato, com elevador, sala de conferencias, um amplo salão onde era servido o desjejum e nosso quarto era descente, lençóis limpos, com um banheiro bem grande e limpo, mas o wifi prometido, e pago a parte, não funcionava. Como estávamos muito cansadas, ficamos lá com a promessa de que no dia seguinte nos mudariam de quarto.

O Ashoka considerava o quarto com barata e roupa de cama suja delux AC room e cobrava por ele 1800 rupias, equivalente a 30 dólares, para duas pessoas, o que não é caro para nós, mas extorsivo se comparado a outros preços de outros hotéis com mais qualidade. De que adianta um quarto maquiado de delux que tem baratas. Barata por barata, prefiro pagar menos. Aqueles quartos horrorosos que pareciam quartos de Ashram, eles cobravam 1200 rupias e não tinham internet grátis.

O Basera era melhor e mais barato, mas a internet só pegava nos quartos do primeiro andar, perto da recepção, pois o modem era de curto alcance. Prometeram que nos mudariam no dia seguinte. O café da manhã incluso na tarifa era típico: poha, que parece couscous marroquino, mas é feito com flocos de arroz batido, seco, semente de mostarda, assafetida cúrcuma e é bem temperado. Não é pesado, já tínhamos comido isso no Parmarth Niketan, e era a base do café da manhã de lá. Ainda podíamos nos servir de chá e/ou chai, sanduíches prontos de pão branco com manteiga e geleia, tudo a vontade. Se quisesse outra coisa, era a la carte e demorava.

Poha, Roti, sanduiches de pão com manteiga, e geléia que pegavamos a parte.

No primeiro dia comemos lá e corremos para a escola do professor Vinod. Pegamos um tutuque e chegamos bem rápido pois era cedinho. O condutor sabia onde ficava a escola. Quando chegamos uma senhora nos atendeu. Ficamos um tempo esperando e logo o Professor, Dr Vinod veio nos receber. Sentamos no varandão da casa e conversamos muito, alias, minha irmã e ele conversaram muito e ele nos contou como era o curso, o que havia, como eram os exercícios e nos apresentou a Sonali, um menina muito simpática que era assistente dele.

Ele disse que não importava quanto tempo fizéssemos de curso, que o básico a ser aprendido poderíamos ter. Tínhamos que fazer um relaxamento e meditação em savassna e depois vários asanas em um ritmo tão lento que teria de parecer que ainda está vamos em savasana.

Baratas

De volta ao hotel, nos mudaram para o outro quarto, com internet, mas não gostamos muito, porque era um pouco menor. O banheiro era maior, mas tivemos uma surpresa na mesma noite. Invasão das baratas. Nós podíamos trocar de quarto, mas sem internet. O wifi só pegava naquele andar e todos os quartos estavam ocupados. Era pegar ou largar. E mais uma vez tivemos que nos adaptar ao indian style, e providenciaram um faxineiro e um dedetizador, que veio com um spray e jogou um pouquinho. Pedimos para ele colocar em outros lugares e ele estava economizando muito. A minha irmã pegou o frasco e começou a dedetizar de fato, e as mini baratas foram aparecendo e morrendo, nojento. Ficamos com o aerosol no quarto apesar do rapaz reclamar muito. O faxineiro limpou tudo, mas antes eu fotografei. Resolvemos não levar mais comida para o quarto e quando comíamos lá, colocávamos a bandeja no corredor, bem ao estilo indiano.

Prof Dr Samprasad Vinod e eu

Todos os dias acordávamos bem cedo, tomávamos o café da manhã rapidamente, pegávamos o auto riquexa e íamos para o Shanti Mandir do Dr Samprasad Vinod.

Fazíamos as práticas com muitos alunos hindus, com a Sonali e o outro assistente (cujo nome nunca conseguimos pronunciar e ficamos com vergonha de perguntar). Depois da prática o professor nos chamava, sentávamos na varanda e, ele nos ensinava muitas coisas e falava sobre outros assuntos também. Muitos alunos chegavam, o cumprimentavam, beijavam seus pés, como é comum na Índia, o chamavam de Baba e iam ter as práticas. A Sonali vinha com um delicioso chai, com bastante cardamomo, que fazia o chai dela ser um dos melhores que tomamos na Índia, e as vezes comíamos alguns docinhos e o chakli, que aprendi a gostar.

Era a semana do Diwali e muita gente chegava com presentes e doces para o professor, o local era muito bacana, gostoso mas infestado e mosquitos e moscas. Meditar em savasana no salão era difícil, era para os fortes, porque os insetos incomodavam muito. Quando o professor Vinod chegava no salão ele nos cobria com mantas para não sermos devoradas pelos mosquitos e ligava os ventiladores para tentar afasta-los.

Esse tempo de meditação em savasana parece muito fácil, mas não é. Ficar deitado 25 minutos ou mais, e chegar ao relaxamento naquele ambiente cheio de insetos e invadido pelo barulho das buzinas das cidades indianas, somada aos latidos dos cães e etc., não á nada fácil, mas depois do primeiro dia tão atormentado, ele nos disse que esse era o desafio. Que a meditação num local silencioso é muito fácil, qualquer um faz. Temos que sair, ficar aquém disso tudo e colocar a mente em quietude e não silêncio.

No dia seguinte foi muito mais fácil, porém meus movimentos de asanas pos a meditação, ainda eram muito rápidos em relação ao que é o correto nesse método. As vezes mal falávamos com ele durante a prática porque era muito requisitado, tinha muitos clientes e alunos.

Ele tem mais de 30 anos de experiência no treinamento, tratamento e pesquisa em Yoga. Seu pai último Maharshi Nyayaratna Vinod, foi um grande Mestre Espiritual, que viajou pelo mundo inteiro como o "Embaixador da Paz Mundial". Sua esposa é professora e erudita em Sânscrito.

Nós soubemos da existência e do trabalho do Dr Vinod quando estávamos fazendo um curso de capacitação em Yoga o Iepy que o professor Marcos Rojo ministrava na USP, em São Paulo. Numa das palestras contidas no curso o livro do professor Vinod foi comentado, e estava a venda. Compramos, lemos e minha irmã mandou um e-mail que o próprio professor Vinod respondeu convidando-nos a fazer o curso na Índia. O professor Vinod mescla a Sabedoria Espiritual Indiana com o Conhecimento Científico Moderno através de diferentes atividades relacionadas ao Yoga. Realiza conferencias pelo mundo, trabalhou em pesquisas alemãs, sobre os benefícios do Yoga para transtornos psicossomáticos. Criador da Meditação Savasana, ele realiza oficinas de Gestão do Estresse na Índia e no exterior. Também é autor de diversos artigos científicos e livros, tendo recebido vários prêmios como o "National FIE Foundation Award" por sua contribuição excepcional para o campo de yoga, assim como o 'Prêmio Vijayshri', que também foi dado a Madre Teressa, é Conselheiro Honorário do Samanvay Yoga Association na França, membro Patrono da Irmandade de Yoga da Irlanda do Norte e Yoga Therapy da Irlanda, em Dublin, faz parte do British Wheel of Yoga and The Yoga For Health Foundation, é membro do Comitê de Pesquisa, Kaivalyadhama Institute of Yoga, Lonavala, Índia, fundador do 'Sahavasan Meditation Internationale (SMILE), nos Estados Unidos., e etc. O currículo dele é extenso e teria que fazer outro post só para isso. Mas a minha intenção é mostrar que um homem com tantos atributos, amigo de Iyengar (que falecera há poucos meses) assim como de outros grandes nomes do Yoga, o Dr Vinod nos recebeu de braços abertos e não cobrou pelo curso. Disse que poderíamos pagar o quanto quiséssemos e se quiséssemos, pois como éramos “mochileiras” e ainda iramos viajar muito, ele sabia quanto nos valia cada tostão.

Nós não tínhamos ideia do preço de um curso desses e nem conseguimos descobrir, mas no dia final, no encerramento da nossa estadia no Shanti Mandir, nos tomamos um belo chai de despedida, com doces e chakli, compramos os livros dele em inglês, porque em português já tínhamos, ele fez belas dedicatórias e lhe demos de presente uma enorme caixa de doces, afinal era o Diwali, e tínhamos reparado de quais ele gostava mais. Compramos uma caixa bem grande e pagamos para fazerem um belo pacote, compramos também um envelope e colocamos algumas rupias ali. Nós calculamos o preço de um curso bacana e de aulas particulares.

Quando entregamos ele disse que não precisava, e nós dissemos que era necessário sim e que sabíamos que ele também fazia um lindo serviço de caridade e que aquilo era tudo o que podíamos dar, mas considerávamos que o curso dele valia muito mais, mais do que qualquer dinheiro poderia pagar. E sorriu muito quando se deu conta de que a caixa continha doces.

MInha irmã, Sonali e eu.

De manhã nossa rotina era a mesma, todos os dias em que ficamos em Pune, e depois do curso, voltávamos a pé para o Hotel. As vezes parávamos num café ali perto, para beber algo, pois estava muito quente e mais tarde íamos almoçar. Sempre no mesmo restaurante.

No dia em que tentamos comer mais perto do hotel, acabamos num lugar que vendia apenas samosas e outras frituras que vertiam óleo. Só comemos porque estávamos famintas e foi a única opção.

Ao lado do Basera tinha um pequena lanchonete que vendia sorvete e milk-shakes da Cadbury. Eram deliciosos, e íamos todos os dias lá. Ali também dava para comer alguns sanduiches de queijo quente com salada. Os famosos chesse toast.

Também andávamos muito pela rua acima e em torno do forte, na verdade não conseguimos descobrir o que era, mas tinha muralhas bem altas de pedra marrom. Parecia o muro de uma fortificação, e mais tarde, olhando no Google maps, percebei que são jardins. Lá dentro tem um Hanuman Mandir, mas quando estávamos nas proximidades, não dá para ter ideia do que é. Há um hospital bem ao lado muito movimentado e muito procurado.

venda de saris na calçada.

Nós íamos pela rua lateral, onde havia um fervoroso comercio local, a procura de chip para telefone e também queríamos comprar passagens de avião.

Comprar um bilhete aéreo em Pune foi uma verdadeira saga, uma aventura com vários capítulos desencontrados. Uma jornada quase impossível; primeiro porque nos disseram que tínhamos que ir ao aeroporto que fica a 14 km e mais ou menos 50 minutos de carro, por causa do transito caótico.

Nós perguntamos a todas as pessoas que conhecíamos onde havia uma agencia de turismo que vendesse passagens e ninguém conhecia. Perguntamos no Hotel, em casas de turismo, dessas que fazem excursões na cidade e proximidades, e incrivelmente ninguém sabia, falaram para comprarmos pela internet. Nós bem que tentamos, mas não conseguimos porque somos estrangeiras, mesmo tendo um numero de telefone indiano, porque minha irmã levou seu telefone e comprou chips em quase todas as cidades, era impossível comprar pela internet porque eles só aceitavam cartão da Amex. Tínhamos dinheiro, Visa, Mastercard, mas não tínhamos onde comprar.

O hotel, que deveria fazer essa ponte, fingiu que não entendia o que queríamos. Eles até poderiam ter feito essa gentileza e ainda cobrar taxas, pois pagaríamos, mas não. Nada fizeram.

Ninguém sabia de nada, já tínhamos o telefone para comprar pela internet, porque eles querem mandar confirmação de tudo por telefone, mas não tínhamos o Amex. Alias, comprar o chip em Pune também foi uma batalha dura, porque ninguém sabia onde tinha uma loja, mas nos indicaram finalmente revendedora de uma operadora em Maladiar Road, que ficava perto do nosso hotel. Era um rua de grande comercio, bastava subir a rua do nosso hotel em direção a muralha e virar à direita.

Nessa rua tem de tudo e é uma rua popular para não turistas. No dia mais importante do Diwali estavam vendendo as tintas, flores, fazendo oferendas a uma vaca que estava no meio da rua de noite.

Perguntando para cada pessoa com quem conversávamos sobre a existência e localização de agencia que vendesse passagens aéreas, alguém nos indicou a Hasmukh Travel, que não tem endereço. Ficava Near Apollo Talkies e Behind Rupee Bank.

Na Índia, poucas ruas, pelo menos nas cidades onde estivemos, tem placas, e muitos endereços são assim: ao lado da farmácia do Mr Baba, atrás do salão de beleza da Sra. King e por ai vai.

Mesmo com essas preciosas indicações foi difícil encontrar, porque esse endereço era numa viela que dava num beco. O Apollo Talkies era um teatro ou algo parecido e a poluição visual na Índia é tanta, com centenas de cartazes e placas que foi muito difícil saber que aquele prédio era o Apollo Talkies. O banco foi um pouco mais fácil de identificar, e finalmente achamos a viela.

Quando entramos no beco, desconfiamos, mas logo avistamos a agencia, entramos, no friozinho aconchegante do ar condicionado fugindo do escaldante calor daquela cidade.

O rapaz que nos atendeu comprou pela internet, como tentáramos. Ele não nos perguntou sobre o retorno e esquecemos de falar, de tão cansadas que estávamos, e depois isso nos gerou um grande problema. De qualquer forma, não havia voo direto para o Nepal, nem voo de Pune para Mumbai e depois para o Nepal. O único jeito era ir apara Mumbai de trem ou carro, ou avião, ou a pé e lá pegar um voo para Délhi e então para o Nepal.

Também era impossível comprar um voo para Délhi que seguisse para o Nepal. Para as datas que queríamos, e saindo de Pune, para o Nepal, via Delhi ou Mumbai não havia, e assim, do pior jeito, aprendemos que não dá pra comprar passagem aérea encima da hora, na Índia. Tem que ter antecedência, como nas viagens de trem, não é apenas porque os indianos viajam muito, na realidade eles são muitos, é muita gente mesmo, 1 bilhão e 250 milhões aproximadamente.

No dia 20 de outubro conseguimos comprar a passagem para o dia 24, que sairia as 11 e 35 da manhã de Mumbai. Não conseguimos voo para Mumbai ou para Delhi, então o mais lógico era ir para Mumbai e pegar o voo lá. Afinal de Pune para Mumbai são apenas 143 km enquanto que a distancia para Delhi aumenta para quase 1.500 km. A maratona seria: ir para Mumbai de trem, e dormir no Elphinstone, por isso imediatamente ligamos para o Mr Singh e reservamos um quarto. Acordaríamos cedo, iriamos para o aeroporto de Mumbai voaríamos para Delhi, onde haveria uma escala, e enfim para Katmandu. Foi o que entendemos, mas essa é outra historia e bem hilária, cheia de erros e acertos, correria e aventuras.

Ganaraj, sempre cheio, ótima comida e bom serviço.

Depois da compra da passagem fomos comer no restaurante de sempre e em seguida fomos para o hotel porque eu tinha que trabalhar um pouco.

Mais tarde passeamos na rua do hotel e eventualmente entravamos na movimentada, Laxshimi road. Compramos alguns tecidos, sáris, echarpes, pós coloridos e gabaritos para os desenhos do Diwali, fotografamos varias moças desenhando as calçada, entramos em joalherias e experimentamos pulseiras, e depois tomamos um lanche. A noite, na hora do jantar, as vezes comíamos no restaurante e outras vezes pedíamos algo no hotal que tinha um serviço a la carte que não era ruim. Em Pune descobri algumas frutas indianas que nunca tinha visto. Comer frutas é uma coisa que eu adoro fazer na India.

Anjeer

Paramos em todas as barracas que tem frutas diferentes e desconhecidas. Pergunto o nome e compro. Eles oferecem para experimentar, mas ficamos com receio, algumas vezes conseguimos nos safar, outras vezes fica impossível e no fim nos arriscamos a comer. Chiko é uma dessas frutas, carnuda, doce, com caroços enormes, que sequei, guardei, trouxe ao Brasil, mas não brotou. As bananas indianas são gostosas, assim como as laranjas, mas um suco de laranja oxida em poucos minutos, por isso eles usam mais a mexerica para fazer "suco de laranja". As romãs são enormes e muito saborosas, quando é época eles colocam nas saladas de frutas que pedimos no café da manhã. Eles também tem dois tipos de uvas pequenas. A verde eles secam e vendem secas em cachinhos.

Loja de jóias ao lado do nosso hotel. Vitrine com ouro.

Todos os dias visitávamos novos lugares, e gostávamos de percorrer a Laxshmi Road porque tinham muitas lojas bacanas de sáris, roupas para casamento, víamos pelas vitrines homens experimentando todo o aparato para a cerimonia de matrimonio, com turbante e tudo mais.

A rua acima de nosso hotel também era bacana e foi onde encontramos a loja de perfumes que diz ser a mais antiga de Pune, datada de 1883, a Vithaldas Narayandas & Sons, Phadke Haud, que fica na esquina da Ganesh Road com a Budhwar Peth. O que nos atraiu, foi o perfume, claro.

Já era noite, tínhamos visto pessoas enfeitando uma vaca, e minha irmã filmou. Todo mundo estava comprando flores e luminárias para o Diwali pois no dia seguinte seria a data principal, quando se acendem as luzes nas portas e fachadas das casas. Entramos na loja e ficamos inebriadas pelos aromas, muitos incenso, diferentes olores e misturas, como açafrão com rosas, que compramos. Nas paredes as fotos do fundador e de outros membros da família que ainda administram o lugar. Os vidros de perfumes muito bonitos em vitrines antigas chamaram nossa atenção. Vendem as fragrâncias a conta gotas. O herdeiro do clã, nos mostrou dois perfumes muito interessantes que eram usados no passado. Um para esquentar o corpo e outro para esfriar. Colocado atrás das orelhas ou nos pulsos e esfregando um pouco o efeito era imediato. Eu gelei, e minha irmã esquentou. Compramos um vidrinho do que esfria, para minha mãe, pois ele disse que era muito bom para pessoas que sentiam muito calor se protegerem no verão.

Vithaldas Narayandas & Sons

Essa era uma loja muito antiga, com balcões antigos, vitrines antigas e até funcionários antigos, mas a loja de perfumes mais antiga da Índia ainda fica em Delhi, a Gulab Singh Johrimal estabelecida em 1816 principalmente como um negócio de fabrico do Attar, um óleo essencial derivado de fontes botânicas. Estes óleos são extraídos através de destilação e o processo consiste em colocar muitas pétalas de flores em um recipiente grande, conhecido como deg, cobre-se as pétalas com água e em seguida tudo é aquecido. Esse processo irá criar vapor que se condensa e corre através de um tubo ligado a outro recipiente onde se despeja o attar. Mas o processo não é tão simples, pois a água é separada do óleo todos os dias e novas pétalas são adicionada ao deg e esse processo dura semanas até que o attar esteja no ponto.

Os perfumes indianos são bem oleosos e as fragrâncias fixam bem nos tecidos, muito mais do que na pele. Compramos o perfume e alguns incensos, como o de rosa verde, de kesar com gulab (açafrão com rosas) e um especial, em cones de sândalo puro.

Depois tomamos um delicioso sorvete e voltamos para o Hotel. No dia seguinte voltamos a nossa rotina de acordar cedinho, tomar café, ir para o curso do Dr Vinod, voltar para o hotel, almoçar, passear, trabalhar um pouco, passear, visitar e jantar.

Tomamos café algumas vezes fora do hotel, mas não lembro onde foi. E todos os dias tomávamos o chai da Sonali com o nosso mestre querido. Nos dois últimos dias, pegamos um motorista de tutuque que fez um caminho bem melhor até o Shanti Mandir, e na manhã seguinte, quando chegamos na saída do nosso hotel, o segurança nos cumprimentou, como todos os dias e apontou o tutuque. Pensamos que ele havia chamado, mas ele disse que não e então vimos que o velhinho motorista do dia anterior estava nos esperando. Não tínhamos combinado nada e achamos muito simpático, mas depois descobrimos que ele queria uma compensação, não pediu, mas insinuou. Nós até demos um extra para ele, mas creio que não achou o suficiente, porque no outro dia não apareceu, apesar de ter combinado que viria.

Quase perdemos a hora o esperando, e tomamos outro carro para o Shanti Mandir. Na Índia tem dessas coisas, eles falam que somos como da família, alguns falam que lembramos as filhas ou irmãs, falam que vão nos levar na loja do primo ou do irmão, mas tudo o que querem é levar alguma vantagem. Há gente bacana, há gente boa, como o velhinho do riquixa de bike de Bodhgaya que não queria nos cobrar.

Templo em frente ao Basera Hotel

Pune é um local de peregrinação por causa do Ashram do Osho, mas não foi isso que nos levou até lá. O ashram do Osho fica distante e é lotado de turistas. Não é um local onde eu e minha irmã iriamos, não tem nada a ver conosco. Eu gostava do Osho e li livros dele quando ele era Bhagavan Shree Rajneesh. Eu não sei quando ele se tornou Osho, mas sei que aquele livro Nem Água, Nem Lua, despertou alguma coisa dentro de mim.

Pune para nós era o local perto de onde nosso mestre de Yoga, o Marcos Rojo tem sua linhagem em Lonavla, terra do Metre Swami Kuvalayananda, e terra o professor Vinod. Estávamos lá por ele, para conhecer ele e frequentar seu curso. Ele disse que haviam muitas coisas para se ver que que nos arredores da cidade haviam fantásticos prédios super modernos no Hinjewadi Rajiv Gandhi Infotech Park, que até tínhamos visto na internet, quando resolvemos ir para Pune, mas estando lá não tivemos vontade de ir.

Viagens para a Índia são assim, as vezes você planeja tantas coisas, e na hora H diante de tantas adversidades, complicações e dificuldades, acaba não conseguindo ir ou desistindo mesmo. O professor Vinod disse que como indiano, ele reconhecia que era difícil viajar na Índia, ainda mais nas nossas condições, ou seja de mochilas, por conta própria, sem ter tudo agendado em uma agencia de viagem, e pediu para voltarmos um dia, mas ficarmos lá, como num retiro. Num hotel próximo e passando quase o dia todo fazendo o Savasana.

Nos despedimos dele e de todos os queridos amigos do Mandir, como já contei acima, e pegamos um trem que saía da Pune Junction e chegava na Mumbai Chhatrapati Shivaji Terminus, bem perto do hotel que tínhamos reservado.

lanchonete da estação

A estação ferroviária de Pune foi uma surpresa porque era limpa, e tinha uma lanchonete diferente de tudo o que há nas outras estações. Nos sentimos em Connaught Place ou no Mondegar de Mumbai. E o melhor, vendiam iogurte e sanduíches prontos embrulhado em papel filme, coisa que jamais havia visto na Índia. Grande, limpa, clara, com comida que parecia mais saudável. Nem acreditamos. Compramos sanduíches e iogurte e fomos achar algum banco para esperar a hora da partida.

O trem era um expresso e a viagem duraria apenas 3 horas. O vagão não era o que esperávamos. Pela internet parecia mais novo e mais limpo, mas era velho, gasto e não estava muito limpo. As fotos da internet sobre a Índia são sempre muito maquiadas. A maioria dos passageiros era de classe média e a distancia dos bancos bem melhor que a dos aviões. Foi uma rápida viagem e chegamos ao hotel no fim da tarde.

DE VOLTA A MUMBAI:

Passamos um bom tempo mostrando fotos de Ajanta e Ellora para o gerente do Hotel, que nunca tinha visitado o local e sabia que tínhamos ido, pois lhe contamos na ida. Depois fomos comer no sujinho de sempre porque tínhamos que dormir cedo, para acordar cedo, para sair para o aeroporto e pegar o voo para o Nepal.

Elphinstone

Esse hotel tem quartos muito pequenos com duas camas e a porta do banheiro no meio das camas. Tem ainda um armário e uma micro mesinha. Não tem janela mas tem uma boa TV, um banheiro moderno e um sistema de ar maravilhoso. Claro que não dá para ficar dentro do quarto a não ser nos momentos de banho, trocas de roupa, trazer compras ou dormir. Mas o hospede pode se adaptar facilmente porque eles tem uma área livre no saguão bem bacana, com wifi, mesinhas, sofás e cadeiras. O café da manhã não é muito bom epara vegetarianos e veganos, porque oferecem pão, ovos, bacon e, para quem não come nada disso, só tem pão e geleia, pelo menos o pão é tostado. Sugerimos para o Mr Singh fazer o famoso cheese toast, com queijo e tomates, ou pepinos, e colocar a opção de manteiga também. Ele gostou e disse que ia repassar para o dono. No amplo saguão há também uma geladeira com sucos, água e refrigerantes.

nosso quarto no Elphinstone

​O Elphinstone não está na melhor das localizações, o entorno é um pouco sinistro, mas fica barato sair de carro ou autoriquexa para qualquer parte da cidade; fica a 5 km de Colaba onde se chega em 15 minutos de taxi. Escolhemos este hotel por vários motivos pois os outros, que cabiam no nosso bolso, em Colaba e imediações estavam lotados ou eram ruins. O Elphisntone chamou a atenção porque era novo, recém reformado, e isso é sempre um atrativo. Hotéis novos são bons, são limpos, ainda estão no auge e não deterioraram. Tinha um preço bom também, mas era o mais caro daquela vizinhança.

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