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Varanasi

  • Foto do escritor: Admin
    Admin
  • 9 de nov. de 2007
  • 14 min de leitura

Atualizado: 8 de abr. de 2021


Chegamos em Varanasi na manhã do dia 9 de novembro de 2007 e nosso Hotel ficava num beco, mas o tuktuk nos deixou na porta. De cara gostamos do local. Uma bela porta de madeira escura com as suastia de Lord Ganesh.

O quarto que reservamos, por telefone e e-mail, não estava disponível. Era um quarto com balcão para o rio Ganges e eu não me lembro bem porque não estava vago.

O dono do hotel era muito simpático e nos ofereceu outro quarto, sem varanda. Ele lamentou o problema que entendemos e aceitamos. Ele prometeu que no dia seguinte nos mudaria de quarto. O hotel tinha uma lan house, lavanderia, um bom restaurante, Apex, e um pátio no centro.

Era um local privilegiado, de frente para o Ganges, com um jardim mais abaixo que tinha uma saída direta para o Meer Ghat onde haviam barcos para todos os fins, inclusive para passeios.

O Hotel tinha 3 andares. No térreo ficavam quartos sem banheiro privados e os banheiros compartilhados. Alguns turistas estrangeiros moravam nesse hotel. Nesse piso também havia o pátio com mesas e bancos onde eram servidas as refeições do restaurante que ficava num piso abaixo. O hotel tinha vários pisos, como nos ghats, e o piso abaixo do restaurante era um jardim com um portão para o Meer Ghat.

O primeiro andar, onde estávamos, tinham quartos simples com banheiro privativo. No segundo andar as acomodações eram melhores. Os quartos com balcão ficavam na extremidade dos corredores do primeiro e segundo andar e eram os mais caros do hotel.

Um templo dedicado aos macacos ficava ao lado do hotel que sempre estava cheio de macacos. Era obrigatório ficar com as portas e janelas fechadas para evitar problemas. Esses habitantes peludos eram um caso a parte. Invadiam o hotel, faziam bagunça nas mesas do restaurante e comiam todos os restos deixados pelos turistas.

No primeiro dia demos uma volta pelas imediações. Era novembro de 2007 e estávamos em pleno Diwali. Passeando pelos ghats, observamos a movimentação dos vendedores de flores, velas, incensos, guirlandas e resolvemos comprar alguns produtos para fazer nosso puja logo mais a noite.

Depois fomos numa lan house, pois eles também tem serviço de telefonia, para ligar para o Brasil e ganhamos doces do proprietário. Em Delhi tínhamos visto as docerias e lojas de alimentos abarrotadas de caixas de doces e com filas imensas, pois no Diwali as pessoas presenteiam umas as outras com doces, entre outras coisas.

Era difícil telefonar mas conseguimos e minha irmã ficou na internet vendo alguns emails e reconfirmando nossa reserva em Rishikesh. Também pesquisamos sobre Sarnath, no Lonely Planet.

Depois demos um passeio pelas milenares ruelas próximas do nosso hotel. Muitas lojas pequenas, com milhares de tecidos, roupas, objetos empilhados. Tudo muito empoeirado e bagunçado. Alguém tinha nos dito e Varanasi era a capital da seda, era o local onde encontraríamos as sedas mais finas, ricas e belas portanto fomos buscá-las. Encontramos muitas sedas, roupas e bijuterias. A rua tinha uma parte coberta por tecidos esticados pelos lojistas e alguns colocavam lustres de cristal ou vidro na rua diante de suas lojas.

Era Diwali, as pessoas estavam felizes e todas eram simpáticas. Paramos numa loja de souvenires porque nos encantamos com alguns objetos. Foi a primeira vez que vi um colar Nine Planets e o dono da loja nos explicou o que era, como funcionava e compramos. Ele nos ofereceu doces de amendoim e leite e contou que sua esposa os fizera.

Depois de uma boa conversa como o simpático comerciante, fomos a uma loja e compramos camisetas, depois um belo lenço de seda comprovadamente pura, pois o vendedor ateou fogo para nos provar que não era sintética. Eu me lembro que compramos camisetas de alcinhas por o equivalente a 1 real. Achamos curioso encontrar camisetas de alças finas que mostram os ombros pois antes de viajar lemos sobre como era ofensivo e imoral mostrar os ombros.

Resolvemos voltar para o hotel porque estava anoitecendo e no caminho passamos em frente ao Golden Temple, ou Kashi Vishvanath, pelo qual já havíamos passado na ida as compras. Tinha nos chamado a atenção devido a movimentação e fila na porta mas os guardas não permitiram que parássemos na frente para tentar saber o que era.

Desta vez, ao passar na porta, nem pensamos em olhar novamente mas um rapaz nos abordou. Perguntou se queríamos entrar no Templo e dissemos que sim, mesmo não sabendo que templo era e nem que esse templo era proibido para turistas. Só havíamos notado que os guardas baniam muita gente, nunca deixavam parar na porta e mandavam os turistas dispersarem. Obviamente achamos bacana poder entrar e o rapaz disse que tínhamos que deixar as bolsas no guarda bagagem em frente ao templo. Parecia oficial e podíamos levar a chave. Fomos em frente sem pensar nas consequências. Ele disse que não tinha que pagar para entrar no santuário pois era grátis para os devotos, falou que não se pagava para visitar templos de adoração. Já o guarda malas pagamos, mas era barato.

Os guardas sorriram para nós, e achamos isso muito estranho. Entramos num lugar escuro e enfumaçado. Uma mistura inebriante de aromas; flores por toda parte, pelo chão, pela paredes, e estava tão escuro que era difícil circular lá dentro. O guia nos conduziu e a primeira imagem que me vem a mente quando me lembro daquele dia é a de uma porção de pessoas debruçadas num tanque, não muito grande e dentro uma Shiva Lingam onde todos jogavam flores e tentavam tocar a água ou leite. Nesse local havia muitas flores e o aroma predominante era floral. O rapaz tocava nas imagens de deuses e passava as mãos em nossos rostos, nos levava de imagem santa a imagem santa e tirava o açafrão ou Kumkum delas e passava em nossas testas.

Vimos várias divindades e o rapaz parava na frente de cada uma apanhava o açafrão passava em nossa cara e orava. Ele cantava mantras.

Quando já tínhamos dado uma volta pelo templo ele parou diante de algum deus e rezou por nossos pais, irmãos e etc. Dizia ser sacerdote, até se vestia como tal, mas devia ser apenas um aprendiz.

Marinheiras de primeira viagem, achamos ele legal, era atencioso, nos levou num local que queríamos ver por curiosidade, só que na saída descobrimos a Índia real. Ele queria dinheiro, queria nos cobrar 100 rupias por cada oração. Os colegas dele, os guardas, ficaram de olho pois certamente teriam sua comissão. Nós protestamos, dissemos que ele tinha oferecido e ainda falou que não tínhamos que pagar. Pegamos as bolsas no guarda volumes e ele insistia. Como nunca andamos com muito dinheiro na carteira mostrei a carteira e ele viu que nada tínhamos, a não ser 50 rúpias que iriamos usar para pagar o guarda volumes. O rapaz ficou mais decepcionado do que bravo, tentou negociar; queria que fossemos no hotel pegar dinheiro. Recusamos, falou em pagarmos no dia seguinte e dissemos que iriamos embora. Enfim, ele queria cobrar 100 rupias por cada membro da família para quem ele rezou num total de mais de mil rupias. Conseguimos ir embora apesar da decepção do rapaz e da cara de raiva dos guardas.

Comentamos o episódio com o dono do hotel que nos contou que aquele templo era restrito, não admitia turistas e falou que o rapaz tinha tentado aplicar um golpe, contudo tínhamos tido a sorte que poucos turistas tem de entrar no Golden Temple.

A energia do local era forte, grande, o aroma ficou impregnado em nossas roupas e em nossos corpos. Saímos de lá com guirlanda de flores e tilaks.

Tilaks, em sânscrito, é aquela marca aplicada como um ponto onde se situa o terceiro olho ou o olho espiritual. O tilak pode ser de pasta de sândalo, de kumkum, de açafrão e de cinzas. Costumam ser aplicados antes de rituais e cada um tem um significado. Com certeza tínhamos todos na testa.

Curiosas fomos ver o guia de viagem e lá dizia que esse era o templo mais antigo e mais famoso dos templos dedicados a Lord Shiva. A deidade principal é conhecida pelo nome Vishvanatha ou Vishveshvara que é um dos nomes de Shiva cujo significado é Governante do Universo e como a cidade de Varanasi também é chamada de Kashi, o templo foi popularmente chamado de Templo de Kashi Vishvanath.

No guia ficava claro que era um local proibido aos turistas e dizia que fora destruído e reconstruído várias vezes. A última estrutura foi demolida por Aurangzeb, o sexto imperador mongol, que construiu a Mesquita Gyanvapi em seu lugar. A atual estrutura foi construída em 1780.

O templo fica a 350 metros do rio e é amplamente reconhecido como um dos mais importantes locais de culto na religião hindu. Dentro do Templo de Kashi Vishvanath está o Jyotirlinga de Shiva, Vishveshvara ou Vishvanath. O Vishveshvara Jyotirlinga tem um significado muito especial e único na história espiritual da Índia. Muitos santos líderes, incluindo Adi Sankaracharya, Ramakrishna Paramhansa, Swami Vivekananda, Bamakhyapa, Goswami Tulsidas, Sathya Sai Baba e Gurunanak visitaram o local pois acredita-se que uma visita ao templo e um banho no rio Ganges fazem parte da lista de afazeres que pode nos levar a Moksha (libertação). E assim como os muçulmanos desejam, e tentam, visitar Meca pelo menos uma vez na vida, os indianos acreditam que é muito bom visitar Kashi Vishvanath, pelo menos uma vez na vida.

Mais tarde fomos ao Aarti no Dashashwamedh Ghat, onde havíamos comprado velas e flores para nosso puja e, antes de assistir toda a bela cerimonia, caminhamos pelos ghats procurando um lugar tranquilo para nosso puja. Encontramos uma plataforma vazia e montamos nossa oferenda de luzes e também lançamos no rio pratinhos feitos de folha, com incenso, velinhas e flores.

Ficamos observando as luzes no rio e depois fomos para o Aarti. Era a primeira vez que viamos um Aarti na beira do Ganges. Dashashwamedh Ghat é o principal ghat de Varanasi e é provavelmente o mais importante porque está ligado a duas lendas. Um delas diz que Lord Brahma construiu o ghat para receber Shiva. E a outra lenda conta que Brahma sacrificou dez cavalos durante Dasa-Ashwamedha yajna, que é um importante ritual de era védica que encontra menção no Rigveda, no local.

Depois do Aarti as pessoas começaram a dispersar, os barcos dos turistas ancoraram e todos desceram e nós duas fomos caminhando pelos ghats até nosso hotel onde jantamos.

No dia seguinte o quarto com o balcão voltado para o Ganges estava vago, mas declinamos porque nosso quarto era confortável e já tínhamos desfeito as mochilas. Na hora do café, um rapaz pediu para se sentar conosco. Ele era comissário de bordo da Air France, e estava viajando com o namorado por uma semana pela primeira vez na Índia. Eles eram agradáveis, conversamos, pediram dicas e quando terminamos de comer partimos para a estação de trem para comprar bilhetes para Rishikesh.

A estação de trem de Varanasi é enorme e tem uma sala especial para turistas onde nos ajudam a entender o intrincado quadro de linhas e itinerários das centenas de trens que atravessam toda Índia. Nessa sala também há banheiro, sofás e muita paciência. Fomos e voltamos no mesmo riquexá de um senhor bem idoso. Dá muita pena pegar riquexás de velhinhos, pois imaginamos o esforço que é para eles pedalar com duas ou mais pessoas no banco, porém ao repensar você chega a conclusão que se recusar uma corrida com ele o estará impedindo de ganhar o dinheiro que tanto quer e precisa para comer ao menos uma refeição por dia. Alguns condutores de riquexás e tuktuks alugam esses veículos para poderem ter um ganha pão. Muitos que são proprietários não tem onde morar. Cansamos de ver homens dormindo em seus veículos estacionados nas ruas assim como vimos muitas pessoas dormindo em camas em grandes avenidas.

De volta ao hotel fomos para o jardim, saímos pelo portão que dava no Ghat e resolvemos pegar o barco de um moleque que ficava parado perto do hotel. Biki, o menino, nem tinha força para levar um barco, mas tinha que trabalhar. Ele nos contou que a mãe trabalhava numa fabrica de bindis, tiramos fotos com ele e ele nos levou para ver os Ghats de cremação.

O rio é tão sujo que impressiona. Tem uma nata gordurosa na superfície e eu comentei com minha irmã que se respingasse na gente ficaríamos doentes.

É verdade que jogam cadáveres, porque quem não tem dinheiro suficiente para comprar lenha para cremar o corpo até as cinzas, fica com a única opção de jogar os restos para Mama Ganga levar.

O que assusta é saber que muitas famílias banham bebes e crianças no rio, e em alguns ghats fazem o ritual de raspar a cabeça das crianças numa cerimônia chamada mundan ou chudakarana. Os hindus acreditam que o cabelo de um bebê recém-nascido pode trazer cargas negativas de vidas passadas por isso é necessário raspá-lo para limpar e purificar o corpo e a alma. As mechas são oferecidas aos deuses ou a um rio sagrado ao som de mantras. Então, a cabeça da criança é lavada com água sagrada do rio e aplica-se uma pasta de açafrão e sândalo.

O rio é sujo, é denso, os cadáveres são jogados nele, lixo é despejado e esgoto também. Os cães nadam, os búfalos são lavados, alguma pessoas lavam roupa, inclusive roupa de cama e os sadhus mergulham nesse local que deve ser a parte mais poluída do Ganges, um dos 5 rios mais poluídos do mundo.

Recordo de que ao chegarmos no hotel eu não suportei o cheiro dos lençóis que exalavam odor de vaca, sim vaca. Pedimos para trocar e trouxeram outra muda de roupa de cama que estava com o mesmo cheiro de vaca. Estavam limpos, mas com cheiro de vaca. Acabamos colocando eles de lado e dormimos sobre a colcha e sobre alguns panos e mantas que tínhamos comprado em Delhi.

Quando vi, depois, lençóis estirados nos ghats para secar, temi que no nosso hotel fizessem o mesmo. A verdade é que Varanasi tem cheiro de bosta de vaca e de morte. Vimos um cortejo indo para o rio. Vários homens vestidos apenas com lungi e com rosto e peitos pintados, carregavam um corpo embrulhado em tecidos e decorado com guirlandas. Eles andavam rápido, quase corriam e cantavam mantras. Aquilo impressionou, exalava aroma de flores e algo de morte. Não era um cheiro ruim, mas a cidade tem uma energia forte, como se fosse um umbral de passagem a outro lugar, um local para se pagar carmas. Essa forte energia impregna a cidade.

A noite ficamos no hotel, que estava todo enfeitado com luminárias de ghee, onde esperaríamos os fogos de artificio da principal noite do Diwali. Muitas pessoas haviam comentado conosco que os fogos eram maravilhosos porém o evento foi bem fraco. Não lembro o que comemos, o pátio do restaurante estava lotado e num determinado momento apagaram as luzes pois estavam atraindo muitos insetos que, por sua vez estavam atraindo muitos macacos e eles estavam começando a fazer a maior bagunça nas escadas, impedindo os hospedes de subirem ou descerem.

Ao lado do hotel havia um templo dos macacos e eles faziam a maior algazarra no Hotel. Um dia um deles me deu um tapa, quando eu subia as escadas e numa outra ocasião mexeram em meias que tínhamos pendurado na varanda. A noite sempre víamos a sombra deles pela janela, que só tinha vidro e cortina. Eles caminhavam no corrimão e faziam seus ruídos.

Certa vez, depois de alguns hospedes deixarem a mesa onde tinham comido, os macacos invadiram e começaram a comer, atirar restos de chapatis uns nos outros, depois louça e enfim as cadeiras. Os hospedes que estavam nas outras mesas, incluindo eu e minha irmã, começamos a sair e os funcionários do hotel foram espantar os baderneiros.

Na manhã seguinte fomos para Sarnath, cidade onde Buda fez seu primeiro sermão. Pegamos um tuktuk com o motorista foi mais louco que conhecemos em toda Índia. Ele cortava, fazia manobras perigosas, corria e estávamos a ponto de descer do carro. Quase batemos de frente com um ônibus e reclamamos, dissemos que iriamos descer, mas ele maneirou porque era uma viagem mais longa e ele ganharia bem.

Depois de muitos sustos chegamos na calma vila, A Roberta estava piorando da gripe que tinha pego na noite anterior. Ela estava se sentindo muito mal e fomos a uma farmácia. O atendente deu pastilhas coflets da Himalaya e comprimidos Vick, para gripe.

Demos uma volta pela cidade antes de entrar no parque e percebemos que alguns vendedores abusavam dos preços porque ali era um local bem turístico e de peregrinação.

Ao sairmos, compramos alguns souvenires e fomos almoçar num restaurante onde tínhamos marcado com o motorista do tuktuk para nos pegar. O lugar estava vazio, chamava-se Tourist Bungalow e ficava na Ashok Road. O garçom disse que podia fazer algo para nós, já que o horário de almoço tinha passado, e sugeriu o que seria mais fácil: dhal, arroz, um curry e uns bolinhos vegetarianos fritos que eram uma delícia. A Roberta melhorou muito com os remédios e depois de comer demos voltas pelo local, uma espécie de hotel super simples e muito antigo.

Na volta para casa o motorista correu de novo e ainda nos deixou bem longe do lugar combinado. Um mercado ao ar livre muito distante de qualquer ponto turístico. Eu acho que ele fez de propósito porque ficou dizendo que tinha nos esperado tempo demais e queria um extra. Mas havíamos combinado valor previamente e aceitamos o que ele pediu. Não sabíamos se iria ser fácil conseguir condução lá em Sarnath, por isso fechamos o pacote. Já estávamos pagando mais do que era o normal, mas como ele esperou, nada mais justo.

A realidade é que éramos turistas e ele queria levar vantagem e ao não conseguir resolveu se vingar nos deixando nesse local horrível. Nós percebemos o truque porque o mercado onde tinha nos deixado não parecia o mercado perto do hotel, havia um tipo de guardrail que impedia o carro de entrar e ele disse que era só um atalho, bastava seguir por ali e pronto. Começamos a discutir e uma porção de indianos apareceram. Na Índia qualquer pequeno bate boca logo se torna uma grande confusão. Eles são super curiosos e em um segundo já virou um tumulto.

Ele disse que estava certo e foi embora, mas quando começamos a percorrer as vielas. O mercado não acabava, as mulheres gritando, os homens também, todos nos olhando admirados, porque não devia ser comum ver turistas por ali. Era um mercado popular onde vendiam roupas, objetos de cozinha, vassouras, ferramentas, plásticos, potes. Em outro setor vendiam verduras, carnes, altares, deuses, enfeites. E nunca acabava.

Começamos a perguntar onde estávamos e onde era o Meer Ghat, mas poucos entendiam pois nem falavam inglês. Nós perguntávamos para que lado era o Meer Ghat e seguíamos na direção indicada, até que chegamos a uma grande via e a situação começou a melhorar pois começamos a ver carros, alguns tuktuks, ônibus e depois vimos hotéis, lojinhas. Continuamos a seguir, perguntando onde era o Meer Ghat e quando alguém nos entendeu nos indicou para onde seguir. Ficamos mais confiantes e aproveitamos para tentar fazer cambio de dólares por rupias, o que foi difícil pois era Diwali.

Barraca de utensílios para pujas, perto no Alka

Encontramos cambio em um pequeno hotel familiar. A mulher foi chamar o marido para nos atender e um rato saiu detrás do balcão, ela bateu o pé e o rato saiu pela porta. Tudo bem natural. Então ela voltou, pediu para a seguirmos e atravessamos uma cortina onde a família, incluindo o dono do hotel, estava reunida fazendo um puja com flores, frutos e alimentos. Ele nos atendeu, trocamos dólares e pedimos ajuda para voltar ao Meer Ghat, ele nos explicou o caminho e chegamos no hotel super cansadas. Resolvemos comer lá mesmo, como de costume, porque a comida era muito boa. Os franceses se juntaram a nós para a ceia do Diwali, contamos como fora o passeio e recomendamos que fossem a Sarnath. O hotel estava todo enfeitado com luzes e flores.

Depois de um longo dia fomos descansar porém minha noite não foi das melhores. Eu tinha comido uma sopa de tomate que dividi com minha irmã. Acordei muito mal de madrugada, com cólicas terríveis e diarreia. Eu suava frio e tinha muitas dores. Minha irmã cogitou de ficarmos um dia mais em Varanasi, até eu melhorar, mas já tínhamos comprado as passagens e o que eu faria se ficasse na cidade seria o mesmo que faria no trem, ou seja, beber água e ficar deitada.

Eu suava bastante, estava muito mal, mas sabia que na estação poderia ficar na sala dos turistas até perto da hora do trem partir.

Fiquei no leito superior do vagão ac car de segunda classe e minha irmã ficou embaixo. Eu coloquei uma garrafa de água ao meu lado, limpei o leito com lencinhos umedecidos, forrei com panos, com a manta e deitei. Tomei mais um comprimido de imosec e dormi. Graças a Deus dormi muito, acordava com sede e tomava água, dormia mais e nada comi. Fui melhorando aos poucos e para minha sorte as duas vezes em que fui ao banheiro estava limpo.

Os 776 km de distancia entre Varanasi e Haridwar seriam feitos em 15 horas. Eu acho que demorou mais, mas não lembro bem. Uma senhorinha que ia para Dehradun dividiu o box de 4 camas conosco e ela e minha irmã conversaram o tempo todo, quer dizer, exceto a noite quando dormiam. Ela desceria depois de nós e nos presenteou com uma caixa de Soan papdi, um delicioso doce feito com farinha de grão de bico, ghee, leite, cardamomo e mel, que lembra muito o halawi árabe.

Chegamos em Haridwar de madrugada. A estação parecia um campo de refugiados, uma porção de gente dormindo no chão empoeirado com vacas e cães. Na saída fomos abordadas por centenas de motoristas de taxi e tuktuk e ficamos tão nervosas e assustadas que começamos a recusar e recusar e brigar até que nos vimos sós, abandonadas e a estação quase deserta.

Madrugada, tudo escuro, e avistamos um táxi, um jipe. Pagamos mais caro, mas foi mais confortável e partimos rumo a capital do Yoga, Rishikesh. No trajeto o motorista parou para tomar o seu Chai, e foi a primeira vez que vimos esse comportamento que logo concluiríamos ser muito comum.

Ele nos deixou no ponto de táxi, porque não podia nos levar para o outro lado do rio, e foi tomar mais um chai enquanto minha irmã foi procurar o telefone do hotel onde reserváramos um quarto.

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